Política

O PT e os muitos obstáculos para alcançar a federação em 2022

O partido tem dificuldades para compor com PSB em ao menos cinco estados; Lula não deve comentar o assunto publicamente

O PT e os muitos obstáculos para alcançar a federação em 2022
O PT e os muitos obstáculos para alcançar a federação em 2022
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Ricardo Stuckert
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Na última quinta-feira 16, o diretório nacional do PT aprovou o andamento das negociações em torno da formação de uma federação partidária para as eleições de 2022. Por trás da ideia de pacificação, contudo, a situação anda complicada.

São muitos nós para o PT desatar. Dos 72 membros do diretório que aprovaram a resolução, a maioria, segundo testemunhas ouvidas por CartaCapital, não é de pronto favorável à federação. Por isso, negociaram um texto que joga para o ano que vem a decisão sobre a federação, ganhando tempo para articular os estados e tentar aumentar o apoio ao sistema eleitoral.

Os petistas contrários à federação temem a judicialização do processo e o risco de ‘amarrar’ diretórios estaduais e municipais em um ‘casamento’ por quatro anos, impondo aos municípios a lógica nacional. Também preocupa o freio à renovação política, já que há uma tendência de colocar na chapa parlamentar candidatos mais fortes e com mandato. Pesa ainda o fato do PSB ter apoiado Aécio Neves em 2014, parte da bancada ter apoiado o impeachment e o fato de parlamentares votarem pontualmente a favor de pautas do governo.

Já a ala favorável à federação a vê como a frente ampla capaz de derrubar Jair Bolsonaro, além de proporcionar aumento das bancadas. Além disso, até seis meses antes da eleição, as federações devem registrar um estatuto, segundo Luis Roberto Barroso. Nesse caso, poderiam ser deliberadas prévias, por exemplo, possibilitando ajustes.

Também pesa o fortalecimento da base no Congresso, facilitando a governabilidade e o fortalecimento da candidatura de Lula. O ex-presidente, por sua vez, não deve entrar nesse debate: irá evitar bola dividida nesse momento em que negocia a chapa nacional e costura apoios regionais.

O problema nos estados

Para além dessas divergências, o PT tem um enorme problema para resolver nos estados. O PSB exige a cabeça de chapa em cinco estados: Acre, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.

Fernando Haddad teceu críticas à exigência em entrevista a um podcast do jornal O Globo. “Ficar fazendo contas de estados, quando você tem um objetivo nacional, que é salvar a democracia, você está misturando as estações”. Ele defendeu palanques múltiplos nos estados, com apoio a Lula à Presidência.

Em São Paulo a esquerda aventa duas possibilidades. Fernando Haddad bate o pé em relação à sua pré-candidatura ao governo, bem como Márcio França, do PSB. Numa federação, França poderia ir para o Senado e teria garantida a candidatura a prefeitura em 2024. Uma ala defende, porém, que Haddad vá para o Senado e França siga como candidato ao governo. Guilherme Boulos também é pré-candidato ao governo pelo PSOL, mas há quem defenda sua candidatura para a prefeitura de São Paulo em 2024.

Outro nó a desatar é no Rio Grande do Sul onde o PT já possui pré-candidato, Edgard Pretto, e o PSB exige Beto Albuquerque na cabeça de chapa. Petistas ouvidos por CartaCapital afirmam que a construção da candidatura de Pretto já está posta, e que teriam dificuldades em fazer campanha para Albuquerque. “Estou conversando com o Beto e combinamos de cada um seguir com sua estratégia até ano que vem para falarmos disso”, desconversa Pretto.

Há dificuldades também em estados que não constam na lista de exigências do PSB, como o Maranhão e também o Distrito Federal. No Cerrado, o imbroglio envolve o ex-ministro de FHC e ex-presidente da Petrobras de Temer, Pedro Parente. Isso porque seu filho, Rafael Parente é candidato pelo PSB. Pedro teria, inclusive, comunicado pessoalmente ao ex-presidente Lula durante uma visita a Brasília que seu filho é candidato.

Porém, o PT conta com dois nomes: Geraldo Magela e Rosilene Corrêia, diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal. Para o Senado seria a deputada Erika Kokay. Lá, lideranças também afirmam que tem dificuldades em apoiar o candidato do PSB pelo fato dele ter sido secretário de Educação de Ibaneis Rocha quando a militarização das escolas foi aprovada. Parente alega que deixou o governo justamente por ser contra as escolas militares.
“Somos favoráveis a federação, fui ao lançamento da candidatura de Parente. O PT ja decidiu por unanimidade que não haverá previas. Vamos buscar consenso progressivo interno”, declarou o presidente do PT-DF, Jacy Afonso.

Na terra de Flávio Dino, recém filiado ao PSB e que deve sair par o Senado, o diretório estadual do PT divulgou uma resolução contra a federação por entender que o sistema irá reduzir um para zero a representação do PT-MA nas bancadas federal e estadual. Além disso, o PT está divido no estado, já que uma parte apoia a candidatura do senador do PDT Weverton Rocha. Outra parte toparia apoiar o vice-governador pelo PSDB Carlos Brandão. “Achamos que a candidatura de Ciro pode se desfazer e assim podemos apoiar o Weverton e o Lula”, declarou uma fonte.

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