Política

O plano de Bolsonaro e Silveira para dar um golpe de Estado, segundo Marcos do Val

Senador detalhou como o então deputado extremista e o ex-presidente solicitaram uma gravação ilegal de Alexandre de Moraes

Jair Bolsonaro e Daniel Silveira (Foto: Reprodução/Facebook)
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O senador Marcos do Val (Podemos-ES) revelou, nesta quinta-feira 2, detalhes do suposto plano elaborado pelo então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para dar um golpe de Estado. A acusação de que o ex-capitão e o extremista tentaram coagir o senador foi feita na manhã desta quinta-feira 2 pelo próprio envolvido.

Segundo do Val, logo após as eleições, Bolsonaro estava ao lado de Daniel Silveira quando este propôs que o senador que fosse ao encontro do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e forçasse uma conversa comprometedora. O diálogo seria gravado ilegalmente pelo parlamentar a partir de um escuta instalada pelos bolsonaristas.

“Eles me disseram: ‘Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte, E você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa para dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso’”, contou o senador na GloboNews.

A ‘equipe de suporte’, alegou senador, seria formada por militares integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e membros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A todo momento, relata do Val, Bolsonaro e Silveira afirmavam que a ação seria uma forma de ‘salvar o Brasil’. Eles diziam que o parlamentar seria considerado um herói nacional caso conseguisse gravar o ministro ilegalmente. Ainda segundo ele, os criadores do plano garantiram que a execução da operação era garantida, sem riscos. A intenção, conta, era usar a gravação para ser o estopim de um golpe já arquitetado.

Ainda de acordo com Marcos do Val, tudo foi verbalizado por Silveira, mas Bolsonaro estava presente e indicou concordar com a iniciativa. O papel do ex-capitão no plano, diz, era não desmobilizar os acampamentos que, naquela ocasião, estavam instalados em frente aos quartéis do Exército. A reunião, segundo do Val, aconteceu no dia 9 de dezembro, mesmo dia em que Bolsonaro se dirigiu a apoiadores no cercadinho pela primeira vez após a derrota. Na ocasião, não reconheceu o resultado das urnas e deu sinais de que ainda acreditava em uma virada de mesa. Teceu elogios também para as Forças Armadas. A declaração foi lida, na época, como um incentivo para que bolsonaristas seguissem aquartelados.

O senador revelou também que, mesmo antes de receber a proposta golpista, já havia sinalizado a Moraes que algo estranho estava acontecendo entre o entorno de Bolsonaro. Dois dias antes da reunião, a pedido de Daniel Silveira, ele havia atendido uma ligação do presidente que o convidava para o encontro no qual demandaria a gravação. Ele conhece Moraes há mais de duas décadas e, por isso, teria sido o escolhido pelos golpistas para realizar a operação. Com medo de se envolver em problemas, diz, avisou Moraes por mensagem. Dois dias após a proposta recebida, se reuniu com o ministro para relatar o ocorrido. O ministro, conta do Val, teria classificado a ideia como ‘um absurdo’ e ficou surpreso com a proposta.

Mensagens trocadas com Daniel Silveira entregues pelo senador para a revista Veja confirmam a linha do tempo relatada. As conversas mostram ainda que a operação estaria sendo desenhada por Silveira e Bolsonaro e contaria com a ajuda de militares.

Segundo diz Silveira a do Val, nem Flávio Bolsonaro saberia do plano golpista. O senador ficou de dar uma resposta dias depois, segundo ele, já com intenção de ganhar tempo para relatar o caso a Moraes. Após ignorar os apelos de Silveira por resposta durante quatro dias, do Val finalmente informou ao deputado que ‘declinaria da missão’. A resposta foi apenas um ‘entendo, obrigado’.

Após trazer o caso à tona, Marcos do Val anunciou que pretende renunciar ao cargo de senador. O senador tem sido chamado de traidor pelos apoiadores do ex-presidente.

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