Justiça
O papel de Kassab na anistia aos golpistas de 8 de Janeiro
O presidente do PSD dá nova força ao projeto que pode beneficiar Jair Bolsonaro


A anistia aos golpistas do 8 de Janeiro consolidou um novo patrocinador de peso: Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Até então tratado como um tema restrito ao PL e à ala bolsonarista mais radical, o debate mudou de figura com a entrada de Kassab, que passou a defender a discussão no Congresso Nacional.
Embora afirme ser contrário a uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, Kassab considera legítimo debater saídas que possam livrar Jair Bolsonaro (PL) de uma eventual prisão ou até da inelegibilidade. Em entrevista à GloboNews em agosto, o dirigente classificou a proposta como algo que “não é nenhuma aberração”, desde que haja cautela.
Nos bastidores, sua atuação responde a uma equação política de 2026. Kassab busca pavimentar uma candidatura do PSD ao governo de São Paulo, espaço que ficará aberto se Tarcísio concorrer à Presidência da República. Para isso, aproximou-se de Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro de Bolsonaro, e fortaleceu a operação conduzida por Tarcísio em Brasília. O trio organiza o movimento que pressiona a Câmara a votar o projeto já na semana que vem, coincidindo com o fim do julgamento do ex-capitão no Supremo Tribunal Federal.
Há um cálculo político: Tarcísio tenta mostrar lealdade a Bolsonaro para herdar o comando da direita, Ciro sonha com mais poder para o PP e Kassab busca o Palácio dos Bandeirantes. A convergência explica a rapidez com que o Centrão aderiu ao tema.
A posição do PSD, que integra a base do presidente Lula (PT) e comanda três ministérios, elevou a tensão no Palácio do Planalto. Até aqui, o governo apostava que a anistia ficaria restrita à tropa bolsonarista, com baixa capacidade de convencimento. Com Kassab em campo, cresceu o risco de aprovação na Câmara, a ponto de líderes petistas admitirem que “alguma coisa vai passar”.
No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) trabalha uma alternativa que preserve a responsabilização de organizadores e financiadores, mas alivie penas para executores de baixo escalão. A versão, contudo, é rechaçada pelo PL, cujo líder Sóstenes Cavalcante (RJ) insiste que Bolsonaro precisa estar incluído.
Com discurso de “pacificação nacional”, Kassab assume o papel de fiador da anistia. Sua habilidade de costura no Congresso e sua influência sobre o Centrão transformaram a pauta em realidade política, acenando para Bolsonaro e projetando Tarcísio como herdeiro da direita (e da extrema-direita) para 2026. O movimento, ao mesmo tempo, expõe fissuras na base de Lula e coloca o PSD no centro de um do debate.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

A visão do governo Lula sobre a proposta de ‘anistia alternativa’ costurada por Alcolumbre
Por Vinícius Nunes
‘Se for votar no Congresso, nós corremos o risco da anistia’, diz Lula
Por Vinícius Nunes