O joio e o trigo

Para se livrar da chantagem dos “tubarões da Bíblia”, Lula busca estreitar laços com igrejas menores, fora da zona de influência bolsonarista

O presidente sabe que não pode esperar nada de figuras como Silas Malafaia e Edir Macedo, que deram apoio entusiasmado ao governo Bolsonaro. Por isso, ele aposta em parcerias com setores progressistas do mundo evangélico – ou mesmo conservadores, desde haja disposição para o diálogo – Imagem: Ricardo Stuckert/PR, IURD e Mauro Pimentel/AFP

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Derivado do latim, o termo prebenda era de uso corrente em quase toda a Europa nos primórdios da Idade Média. Em seu significado original, tinha caráter religioso e servia para designar a ajuda em dinheiro, vestimentas, moradia ou mantimentos que as comunidades cristãs davam aos padres e sacerdotes para que estes tivessem o conforto material necessário para realizar missas e cultos e “semear a palavra de Deus”. Isso, claro, antes de a Igreja Católica tornar-se riquíssima e hegemonizar politicamente o continente europeu. Ainda no século XVI, com a Reforma Protestante de Martinho Lutero e João Calvino, o termo ganhou ares pejorativos, pois prebenda passou também a designar os pecaminosos ganhos financeiros de alguns altos membros do clero por seus “serviços prestados ao Vaticano”.

Muitos séculos depois, no Brasil de 2024, onde alguns setores da política e da sociedade parecem ter queda por discussões medievais, a palavra prebenda, desconhecida para a maioria da população, ressurgiu. Ela está na raiz da mais recente crise entre o governo Lula e lideranças evangélicas, deflagrada depois que a Receita Federal decidiu suspender um ato publicado pelo governo Bolsonaro que isentava de Imposto de Renda e contribuições previdenciárias os repasses feitos pelas igrejas aos pastores.

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2 comentários

CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 26 de janeiro de 2024 13h08
O problema não são os pastores evangélicos e os padres católicos, mas os antipetistas e “anticomunistas”. Para esses, Lula e o PT NUNCA farão nada certo.
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 29 de janeiro de 2024 00h13
Diferentemente do governo Bolsonaro que bajulou caninamente a plutocracia evangélica, o governo Lula está racionalizando a promover isenção tributária com esses grupos fazendo com que a justiça tributária atinja efetivamente os segmentos mais necessitados e mais carentes de modo que todos os segmentos religiosos sejam beneficiados e não somente uma casta de religiosos ou até os falsos religiosos que sempre se refestelaram com governos autoritários e populistas como o de Bolsonaro. As tais prebendas devem ter os seus fins destinados a quem de direito: os mais pobres , de modo a ser fazer justiça social nesse país e não para enriquecer aqueles que sempre enganaram os seus fiéis com promessas vazias e inúteis, mas sempre se beneficiaram com as isenções do fisco sob o manto da fé dos incautos.

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