Política

O jeitinho nos anos eleitorais

A ideia de que, por ser menos exposto a pressões políticas, os regimes ditatoriais são mais eficientes, é desmentida pelos modelos de atuação

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Adiamento de problemas relevantes

Em 1974, ano em que a oposição aplicou uma derrota histórica à Arena, o então ministro da Fazenda Delfim Netto manipulou os índices de inflação. Sua jogada consistia em levantar os locais de apuração de preços pela Fundação Getúlio Vargas e, alguns dias antes da pesquisa, abastecer os estabelecimentos com estoques de alimentos a preços módicos.

A inflação represada estourou no ano seguinte.

Em 1979, repetiram-se as mesmas práticas populistas, e ainda se estava em plena ditadura.

Para garantir a popularidade do presidente general João Batista Figueiredo, criou-se uma lei salarial que aumentou a inflação. O ministro Mário Henrique Simonsen pulou do barco antes que o balão explodisse.

Em 1998, Fernando Henrique Cardoso recorreu a um empréstimo do FMI para adiar o reajuste do câmbio antes das eleições. A maioria absoluta dos colunistas econômicos e analistas financeiros endossou a jogada, garantindo que o câmbio não seria alterado. Foi, dois meses depois.

O governo Dilma Rousseff vem adiando os reajustes de combustíveis descapitalizando a Petrobras e lançando o setor sucroalcooleiro em uma grave crise; não mexeu no câmbio, ampliando o déficit comercial brasileiro; para fechar as contas, aumentou a taxa Selic, pressionando as contas fiscais.

Os abusos em épocas de bonança

No período 1969-1974, em pleno apogeu do “milagre” foi cometida toda sorte de estripulias fiscais com fundos regionais, com benefícios fiscais, com obras faraônicas, descontrole no mercado de crédito.

De 1975 em diante, embora em um regime ditatorial, o general Ernesto Geisel comandou um brutal processo de endividamento, escudando-se na máxima de que “dívida não foi feita para ser paga, mas para ser rolada”. Por trás da estratégia a noção de que, se a economia perdesse vigor, seu governo perderia legitimidade. Na época, o mundo experimentava um bolha de liquidez, em função da reciclagem dos petrodolares acumulados no período.

Essa mesma abundância cambial serviu de álibi para Gustavo Franco quebrar o país em 1994 e Lula quase quebrar em 2008 – só não quebrou por conta da crise global que mudou as condições internacionais e internas da economia.

Do mesmo modo, a solidez fiscal levou o governo Dilma a um festival de isenções fiscais sem nenhum planejamento.

Em todos esses momentos – FHC, Lula e Dilma – taxas de juros extraordinariamente elevadas para atrair capitais especulativos e adiar o ajuste cambial.

As manobras para fechar as contas

Em 1982, quando o país quebrou, o regime militar fez pior: arrebentou com as contas públicas, esvaziou os fundos constitucionais, obrigou as estatais a se endividarem pesadamente em dólares, praticamente quebrando o enorme acervo de boas estatais criado na década anterior.

Em 2012, em vez de assumir a dificuldade em manter as metas de superávit fiscal, por conta da perda de dinamismo da economia, a Secretaria de Tesouro adotou uma série de práticas não convencionais para amenizar a redução, embora sem as conseqüências calamitosas do período militar.

Conclusão: o problema não é de ditadura ou de democracia. É de jeitinho.

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