Política
O incômodo de Flávio Bolsonaro com a operação da PF contra Zambelli
Investigação, novamente, impacta diretamente Jair Bolsonaro


O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) se mostrou bastante incomodado com a operação da Polícia Federal que fez buscas na casa e gabinete da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A corporação procurava novos elementos no caso que apura uma suposta trama para invadir os sistemas de urnas eletrônicas, com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes no sistema do CNJ. A operação ocorreu na quarta-feira 2 e prendeu, novamente, o hacker Walter Delgatti Neto.
Para o senador, que é filho do ex-presidente, a operação seria uma tentativa ‘tresloucada’ de ligar Bolsonaro a mais uma trama golpista. O ex-capitão, vale dizer, acumula uma série de suspeitas de participações em planos golpistas, com tramas para destituir ministros, impedir Lula (PT) de assumir o cargo e até de intervir militarmente no País. Dessa vez, o hacker disse ter tratado de uma possível invasão ao sistema das urnas eletrônicas em um encontro com o então presidente. CartaCapital apurou que Jair Bolsonaro deve ser chamado a depor à PF,
“[A operação] É uma tentativa desenfreada e tresloucada de atingir Bolsonaro, achar algo de concreto que envolva Bolsonaro, o que não vai acontecer, porque não existe”, disse Flávio Bolsonaro ao jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira 3.
A declaração tem tom parecido ao de Zambelli em coletiva de imprensa concedida horas após a operação. Segundo ela, Bolsonaro e Delgatti não tem qualquer relação. O único encontro entre os dois, alega a deputada, serviu para o ex-capitão perguntar sobre supostas vulnerabilidades das urnas.
Um depoimento de Delgatti à PF, porém, informa que, além da pergunta de Bolsonaro, seus conhecimentos teriam sido usados pelas Forças Armadas para produção de um relatório solicitado por Bolsonaro. O advogado do hacker também garante que o seu cliente participou de reuniões no Ministério da Defesa na gestão do ex-capitão.
Segundo Flávio, no entanto, nada disso poderia implicar seu pai no caso:
“Por mais que tenha tido conversas dela sobre qualquer assunto com esse tal hacker, absolutamente nada foi comprovado e, mais uma vez, ainda que fosse comprovado que existiu uma conversa nesses termos, não tem crime nenhum nisso”, afirmou o senador ao jornal.
Mais adiante, ele insiste: “O que ele [Delgatti] falou, a versão dele teria de ser comprovada. E ainda que se comprove de alguma forma, não houve crime nenhum. Não houve tentativa de fazerem nada ou nada foi feito em relação a essa suposta conversa que ele teria tido com a Zambelli.”
Ao final, o parlamentar disse também que não há qualquer melindre entre ele, seu pai e a deputada, que está no centro do caso. Flávio disse que irá ‘dar suporte a ela’. Nos bastidores, porém, há a indicação de que Bolsonaro não mantém mais contato com Zambelli. A relação estaria deteriorada desde a eleição, quando ela sacou uma arma e perseguiu um opositor. O episódio é lido como decisivo para a derrota do ex-capitão nas urnas.
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