Política

O ‘equilíbrio psicológico’ de Lula diante da guerra entre Lira e Pacheco

Em café com jornalistas, presidente falou também de Bolsonaro e ‘do bolso’ dos ricos

O presidente Lula em café da manhã com jornalistas em 6 de abril. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), encrencou com o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por causa da forma de votar medidas provisórias e avisou à praça, no fim de março, que o governo pagaria o pato (o governo é que baixa MPs). E Luiz Inácio Lula da Silva, confessor da dupla, como está diante da confusão? “Quando a gente está no cargo de presidente, a gente tem que ter muito equilíbrio psicológico”, disse nesta quinta-feira 6 em um café da manhã com jornalistas.

Um “equilíbrio” que ele também tentará manter diante de Jair Bolsonaro, que acaba de retornar ao País. “Tenho a consciência de que o Bolsonaro quer voltar a se candidatar à Presidência”, disse Lula, e que “ele vai voltar a fazer oposição”. Mas, prosseguiu o petista, o antecessor tem processos a responder, pois cometeu muitos erros, e “o mais grave deles” são as 700 mil vítimas da Covid.

Dois ministros acompanhavam Lula no café da manhã, do qual CartaCapital participou: Paulo Pimenta, da Comunicação Social, e Marcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, ambos deputados do PT. Pimenta, disse o mandatário, orienta-o “todo dia a não falar esses nomes”. Referia-se a Bolsonaro e ao senador Sergio Moro (UB-PR). Uma estratégia, presume-se, para manter Lula concentrado em governar.

“Até hoje não senti nenhuma dificuldade com o Congresso”, declarou o presidente, para quem Lira e Pacheco têm tido “um comportamento de muita decência” com o governo. “Estou muito tranquilo com a construção da base (governista).” O que não o impede de admitir que, até agora, o Palácio do Planalto ainda não enfrentou um “teste” para valer no Parlamento, ou seja, uma votação importante.

E os “testes” virão. É o caso dos planos do governo na área tributária destinados a tentar materializar uma promessa eleitoral de Lula, a de “colocar o rico no imposto de renda”. “A política tributária possivelmente seja a votação mais difícil que a gente vai ter no Congresso, porque você vai mexer no bolso das pessoas. A parte mais sensível do ser humano é o bolso”, afirmou ele no café.

O Congresso não apenas é alvo de lobby patronal como abriga muito parlamentar que é ele próprio um empresário.

Um dos planos tributários do governo é a MP que muda o “tribunal dos impostos”. O chamado Carf fica no Ministério da Fazenda. Metade de seus componentes é indicada do governo (auditores-fiscais) e metade, de indicados de confederações patronais. Desde 2020, uma empresa caloteira ganha um julgamento, se der empate. A MP acaba com isso: um auditor-fiscal terá voto de minerva. O Brasil “é o único país do mundo em que o governo já entra perdendo”, afirmou Lula. Uma situação aprovada em 2020 com as digitais de Arthur Lira, então líder do dito “centrão”.

Outro plano do governo está dentro da proposta de controle de gastos e da dívida pública desenhada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A proposta, batizada de arcabouço fiscal, só para em pé se o governo conseguir arrecadar mais através do fim de isenções e desonerações dadas historicamente a certos setores empresariais. Benesses que Haddad classifica de “patrimonialismo”.

Uma terceira ideia que mexerá com o bolso é a reforma tributária propriamente dita. Há tempos debate-se no Congresso a alteração em impostos cobrados no consumo. Depois que ela for aprovada (se é que vai), Lula e Haddad pretendem propor uma taxação maior dos ricos. Abolir, por exemplo, a isenção dada em 1995 a sócios de empresas na hora de eles receberem lucros e dividendos.

Em certo momento do café da manhã, que durou uma hora e meia, Lula disse que ser oposição é dizer o que se quer e que ser governo, é fazer o que se pode. Uma questão de “correlação de forças”, anotou ele. No atual tabuleiro político brasileiro, será uma proeza o governo conseguir que o Congresso imponha tantas derrotas aos endinheirados do País.

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