Política
O corte de relações entre o comando do Congresso e líderes de Lula
Com PL Antifacção e indicação de Jorge Messias no retrovisor, o Planalto busca aparar as arestas para não implodir agenda legislativa
Na reta final do ano legislativo, a gestão Lula (PT) terá o desafio extra de retomar os canais de diálogo com a cúpula do Congresso Nacional em meio a sinais de rompimento dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), com dois dos principais articuladores governistas no Legislativo.
Aliados do presidente da República veem o estremecimento das relações como algo de ordem pessoal, mas admitem que as rusgas podem impactar o avanço de pautas prioritárias, a exemplo do PL Antifacção e do projeto que eleva os tributos das fintechs.
Nesta segunda-feira 24, Motta afirmou ao jornal Folha de S. Paulo não ter “mais interesse em ter nenhum tipo de relação” com Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara. Conforme aliados do paraibano, a irritação não é recente, mas a atuação crítica de Lindbergh na tramitação do PL Antifacção ampliou o desgaste.
O imbróglio remonta à escolha de Guilherme Derrite (PP-SP), licenciado do cargo de secretário de Segurança Pública de Tarcísio de Freitas (Republicanos), para relatar o projeto. A decisão desagradou ao governo, que via na proposta uma forma de responder à crise de segurança pública. Derrite fez uma série de alterações na versão original, levando o Planalto a orientar o voto contra a matéria.
Motta expressou seu descontentamento com a postura dos petistas na votação. “O governo tem que se explicar hoje à sociedade brasileira por que ficou contra”, alegou, em entrevista à Jovem Pan na última quarta-feira 19.
Apesar do rompimento com Lindbergh, interlocutores pontuam que a relação do presidente da Casa com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e com o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), é estável, embora não descartem novos focos de tensão diante do clima de descontentamento com o Planalto — não apenas pela postura no PL Antifacção, mas pelo que consideram uma demora na execução de emendas.
Lindbergh Farias afirmou nas redes sociais que suas manifestações são “transparentes e previsíveis” e que a política não “não se faz como clube de amigos”. Também disse que, se há crise de confiança na relação entre Motta e o Planalto, “isso tem mais a ver” com as posições do presidente da Câmara. “Ele que assuma as responsabilidades por suas ações e não venha debitar isso na minha atuação como líder da Bancada do PT”, concluiu.
No Senado, Alcolumbre selou o afastamento com o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), após a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal. Alcolumbre defendia a escolha do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O chefe da Casa Alta se irritou com o fato de Lula não tê-lo comunicado previamente e respondeu indicando que votará contra Messias, romperá com Wagner e pautará um projeto com alto impacto fiscal que segurava há meses.
Em entrevista à GloboNews, Wagner reconheceu existir uma “tensão muito grande” no Senado e admitiu que a sabatina de Messias pode ficar para 2026. De acordo com aliados, o AGU tentou falar diretamente com Alcolumbre, sem sucesso. Por isso, resolveu divulgar uma nota na tentativa de reduzir a resistência enfrentada desde que foi indicado ao STF.
Alcolumbre foi lacônico na resposta ao documento: também em nota, disse que tomou conhecimento da mensagem e que o Senado executará, “no momento oportuno”, o procedimento tradicional para avaliar a indicação.
Os rompimentos da cúpula do Congresso com dois dos principais articuladores do Planalto ocorrem em um momento sensível para o Executivo. Operadores do governo ainda tentam, por exemplo, aparar as arestas em torno da Lei de Diretrizes Orçamentárias — etapa necessária para avançar no Orçamento de 2026 — e terão de negociar simultaneamente outros projetos com impacto fiscal e político.
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