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O Brasil continua chantageado por militares que deveriam varrer calçadas e pintar paredes

Bolsonaro não é um acidente de percurso. Resulta da covardia dos civis em estabelecer a verdade e impor autoridade, como aconteceu na Argentina, no Chile e no Uruguai

Após horas de reflexão nas academias militares... - Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
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Os iludidos que um dia acreditaram na derrubada da Lei da Anistia, imposta pelos militares, e na punição dos facínoras dos porões da ditadura hoje se contentariam com um gesto bem mais prosaico: que as Forças Armadas parassem de envergonhar o Brasil com as comemorações do 31 de março. Lá se vão 37 anos do que parte da intelectualidade insiste em chamar de redemocratização, da devolução tutelada do poder aos civis, e o País continua chantageado pelas baionetas. Entrincheirados em ministérios, estatais e mais de 7 mil cargos de confiança, os generais nunca estiveram tão convencidos de sua superioridade intelectual e moral, notórias qualidades dos generais Eduardo Pazuello e Augusto Heleno, expoentes do pensamento das casernas. Tamanho brilhantismo ofusca.

Assinada pelo ex-ministro da Defesa Walter ­Braga Netto, futuro companheiro de chapa de Jair Bolsonaro, e pelos ­comandantes das três forças, a nota alusiva ao golpe, divulgada na quinta-feira 31, exala o cheiro de mofo da Guerra Fria, não a atual, mas aquela dos tempos do telex, da ­Polaroid e dos thrillers de John Le ­Carré. É tão atual quanto o blindado da parada militar de agosto do ano passado que sonhava ter asas e integrar a Esquadrilha da ­Fumaça. Exuma o cadáver do comunismo e diz que 21 anos de ditadura “salvaram” a democracia da iminência de uma revolução socialista. Anos de terapia não serão suficientes para superar a regressão. Só quem é capaz, a esta altura, de enxergar comunistas em cada esquina pode equiparar João Goulart, um estancieiro de ideias reformistas, a ­Lenin ou ­Fidel Castro.

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