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No mesmo barco

Sem a hostilidade de Brasília, o Consórcio Nordeste vai avançar, diz João Azevedo

Alternância. É a vez de o governador da Paraíba presidir o consórcio - Imagem: Redes sociais
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Novo presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Paraíba, João Azevedo, vê na chegada de Lula à Presidência a ­oportunidade de elevar a parceria entre os nove estados da região a um novo patamar. “Vamos estabelecer uma relação republicana com o governo federal”, diz Azevedo, após quatro anos de perseguição de Bolsonaro, ressentido pelas escolhas políticas dos mandatários e da população nordestina. Na entrevista a Fabíola ­Mendonça, o governador eleito pelo PSB descreve ainda o papel regional na retomada do crescimento do País e da relação muitas vezes conturbada do seu partido com o PT.

Governo federal

O Consórcio Nordeste não foi criado para fazer contraponto ao governo federal, mas com o objetivo claro de, por meio do compartilhamento de experiências, ter avanços significativos nos estados e, ao mesmo tempo, força maior nas reivindicações. Ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro, infelizmente, a relação ficou extremamente desgastada. Chegou ao limite da falta de respeito para com os governadores. O Consórcio viu-se obrigado, portanto, a assumir uma posição política muito clara. Tivemos ainda a pandemia. Na nossa ótica, o enfrentamento da crise sanitária por Brasília deveria ter sido completamente diferente. No Nordeste, criamos um comitê científico que nos orientou e norteou verdadeiramente a ação de combate à Covid-19 e que deu resultados, tanto que a região registra a menor letalidade do País. Foi dura a convivência nesses quatro anos. Esperamos agora o contrário. O presidente Lula demonstrou essa mudança, tanto que fomos convidados e tivemos uma audiência com o presidente da República para discutir a reunião de 27 de janeiro com todos os governadores do Brasil. Lula começou pelo Consórcio Nordeste, para a gente discutir as pautas de interesse da região. Isso demonstra claramente que ele pretende manter uma relação republicana, institucional com os governadores e utilizar, sempre que possível, o Consórcio. Não significa dizer que os estados perderão suas identidades, mas, quando o interesse for regional, a gente debate via Consórcio. Teremos uma reunião preparatória para o encontro entre Lula e os governadores, para discutir quais são as prioridades da região.

 Nordeste

Está na hora de a gente ter uma leitura um pouco diferente sobre o Nordeste. Primeiro entender que o Nordeste hoje não é o Nordeste de 60 anos atrás, a região, hoje, gera muita riqueza. Entender que o Nordeste será capaz de, por exemplo, gerar 65% das energias renováveis do País. Considerando o hidrogênio verde, combustível importante no futuro, não tenho dúvida de que seremos um grande fornecedor, até pelo fato de a produção depender da energia renovável, abundante na região. Todos os dias são instalados novos parques eólicos, novas usinas solares. Não se trata mais daquele Nordeste em que só se falava de seca, de miséria, de frentes de emergência. Precisamos estar inseridos no plano de desenvolvimento do País.

“É necessário encontrar uma solução definitiva para a transposição do Rio São Francisco”

Mandato

Somos uma instância na qual as decisões são sempre colegiadas e consensuais, não há disputa e isso facilita muito a defesa dos interesses comuns. Tenho, no entanto, foco em algumas coisas que considero fundamentais. Primeiro, fazer com que todo o sistema de integração da nossa segurança volte efetivamente a funcionar como funcionou um dia e que hoje não está num nível adequado. É necessário encontrar uma solução definitiva para a transposição do Rio São Francisco. Temos hoje questões legais que ainda não foram resolvidas e envolvem Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Vamos fortalecer as nossas câmaras, principalmente aquela de agricultura familiar, na qual algumas ações de providências foram tomadas anteriormente, entre elas o estímulo à mecanização das culturas. Existe uma experiência extraordinária na China, a fabricação de implementos agrícolas, equipamentos voltados para a agricultura familiar. Fazer o enfrentamento da fome é outro ponto extremamente importante.

PT

Vou separar um pouco, se é que é possível, a minha relação com o presidente Lula, toda vida extremamente tranquila, com o PT. Há dois anos eu anunciava que, caso o presidente Lula fosse candidato, eu o apoiaria e ele teria o nosso palanque à sua disposição, se assim o quisesse. Logicamente, a política é muito dinâmica. O PT da Paraíba, no primeiro turno das eleições, apoiou um candidato do MDB, pois parte do partido no estado se colocou na condição de adversário do nosso governo, do nosso projeto. E isso fez com que no primeiro turno o presidente Lula tivesse pedido votos para esse candidato, que não logrou êxito, ficou em quarto lugar no primeiro turno e nós fomos para o segundo turno. No segundo turno, o presidente declarou apoio à minha reeleição. Mesmo sem ter recebido o apoio formal no primeiro turno, não houve um único comício, uma única reunião que eu não fizesse a defesa da eleição do presidente Lula. Até por uma questão de acreditar na forma de fazer política e saber verdadeiramente que este País precisava mudar. A política está acima de interesses pessoais. Tenho um respeito muito grande por companheiros do PT que ficaram conosco. Entretanto, no segundo turno, houve um agrupamento, de extrema-direita e extrema-esquerda, que se colocou em oposição ao nosso governo. Gente do PT associada aos bolsonaristas de primeira linha na Paraíba, todos unidos na tentativa de derrubar este projeto. Não conseguiram, a população fez a leitura e tivemos uma vitória extraordinária. Mas não foi fácil, isso foi fruto de um trabalho muito grande, competência para fazer por toda a Paraíba. Hoje, a minha relação com o presidente Lula é a melhor possível. Ele tem um respeito muito grande pelo estado. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1243 DE CARTACAPITAL, EM 25 DE JANEIRO DE 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “No mesmo barco “

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