Política

No governo Bolsonaro, Abin usou programa para monitorar pessoas por meio do celular

Segundo o jornal O Globo, a agência operou o programa entre 2019 e 2021

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) operou um sistema secreto que monitorou a localização de cidadãos em todo o País, durante os três primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (PL). As informações, divulgadas nesta terça-feira 14, são do jornal O Globo e indicam que o instrumento utilizado permitia monitorar passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses.

A ferramenta é conhecida como “FirstMile” e, para funcionar, era necessário apenas que se digitasse o número do contato telefônico. A partir disso, o acompanhamento era feito através de um mapa. 

Segundo o jornal, que teve acesso a documentos e relatos de servidores, a prática foi questionada por agentes da própria Abin, uma vez que a agência não possui autorização legal para acessar livremente dados privados da população do país.

Desenvolvida pela empresa israelense Cognyte (antigamente, conhecida como Verint), a tecnologia permitia o rastreamento quando dados do celular eram transferidos para torres de comunicação. O sistema chega a permitir que se crie um “alerta em tempo real” de movimentações de alguma pessoa específica em local determinado.

De acordo com a publicação, a ferramenta era utilizada sem justificativa oficial, embora, segundo relatos, a alegação era de que o acesso a metadados do celular não estava expressamente proibido em lei e que a agência, ao operar, afirmava que se tratava de casos de “segurança de Estado”. 

A lei que instituiu a Abin e estabeleceu os limites e alcances da sua finalidade é a 9.883/99. Nela, não há previsão de que a agência possa monitorar celular e/ou exercer vigilância de geolocalização. Na esfera privada, as condutas dos indivíduos levam em consideração não apenas aquilo que a lei permite, mas aquilo que ela não proíbe.  No âmbito público, por outro lado, os agentes só podem exercer atividades que estão previstas em lei, de modo expresso.

A Abin afirmou que o caso possui sigilo contratual e que está impedida de comentar. O mesmo argumento foi utilizado pela empresa que desenvolveu o programa e pelo seu representante no Brasil, Caio Cruz, filho do general Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro. 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo