Economia

No Brasil com 33 milhões de famintos, bolsonarista lava o carro com gasolina em PE

O País que ‘vai muito bem’, como alega Bolsonaro, decretará um estado de emergência para tentar ressuscitar a campanha do ex-capitão

Fotos: Reprodução/Redes Sociais e Evaristo Sá/AFP
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As redes sociais amanheceram nesta sexta-feira 7 com a circulação de um vídeo a exibir um bolsonarista “lavando” o carro com gasolina em um posto de combustível em Pernambuco.

Nas imagens, o apoiador do ex-capitão diz, aos gritos, que “a gasolina baixou” e “é Bolsonaro”. O tanque transborda de combustível e, em êxtase, o homem passa a derramar a gasolina no veículo.

A cena é tão estarrecedora quanto perigosa, afinal, qualquer fagulha a entrar em contato com o líquido inflamável provocaria uma tragédia.

A euforia do rapaz segue a linha do discurso de Jair Bolsonaro a três meses de uma eleição na qual ele aparece em desvantagem: problemas na economia seriam culpa de prefeitos, governadores, pandemia e guerra na Ucrânia; supostos avanços decorreriam de ações do governo federal.

Nos últimos dias, Bolsonaro intensificou sua estratégia de negar a extensão do drama social a castigar o País sob seu governo. Na quinta-feira 7, horas depois de dizer no cercadinho do Palácio da Alvorada que não fosse ele “o Brasil já estava no buraco”, insistiu no assunto durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais.

“Vocês estão tendo informações dos números da economia. O Brasil está indo muito bem“, repetiu. “Chegamos à casa de 9,4% de desempregados no Brasil. É um número que a gente pretende diminuir, não atrapalhando o empreendedor.”

O dado sobre o desemprego partiu do Ipea, em 24 de junho. 14 dias antes, o IBGE demonstrou que a renda média por pessoa nos domicílios brasileiros teve a maior queda da série histórica e chegou ao menor valor em dez anos. A desigualdade cresce.

Nesta sexta 8, a divulgação, também pelo IBGE, dos dados da inflação volta a contradizer as alegações de Bolsonaro. O IPCA acelerou de 0,47% em maio para 0,67% no mês passado. Em 12 meses, a inflação já acumula alta de 11,89%. No ano, de 5,49%.

Em junho, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram aumento de preços. Não à toa, o Brasil sustenta a quarta inflação mais elevada entre os países do G20, conforme levantamento da Trading Economics, plataforma que reúne e analisa os dados oficiais de quase 200 nações.

Os números ajudam a dimensionar o drama social que o Brasil atravessa. Na quarta 6, um relatório divulgado por agências da Organização das Nações Unidas trouxe detalhes preocupantes sobre a mais grave face da crise econômica nacional: a fome.

O número de pessoas no País a sofrerem com insegurança alimentar moderada ou grave disparou de 37,5 milhões entre 2014 e 2016 para 61,3 milhões entre 2019 e 2021.

Entre 2019 e 2021, 15,4 milhões de brasileiros viveram sob insegurança alimentar grave. Entre 2014 e 2016, eram 3,9 milhões.

Publicado no início de junho, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil já alertava: são 33,1 milhões de pessoas a passar fome no País, o mesmo nível de 30 anos atrás.

O levantamento apontou ainda que, em menos de um ano, 14 milhões entraram em situação de vulnerabilidade alimentar. 6 a cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar. 

Diante da rejeição majoritária ao governo e do favoritismo de Lula (PT) nas eleições, verificados por todos os principais institutos de pesquisa, Bolsonaro tenta culpar os outros atores políticos nacionais e internacionais por uma crise que, agora, deseja fazer parecer menor do que é. Na estratégia dos contrastes, o Brasil “que está indo muito bem” precisa decretar um estado de emergência, via PEC Eleitoral, para liberar benefícios sociais e tentar ressuscitar a campanha do ex-capitão.

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