‘Não sou fiscal’, diz Queiroga sobre vazamento de dados de médicos pró-vacina

Internautas compararam a resposta do ministro ao episódio em que Bolsonaro afirma 'não ser coveiro' quando questionado sobre o número de mortes por Covid-19 no Brasil

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Foto: Evaristo Sá/AFP

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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, questionado na manhã desta sexta-feira 7 sobre a responsabilidade da sua pasta no vazamento de dados pessoais e sigilosos de médicos pró-vacina, respondeu que entre os seus atributos como chefe do ministério não estava o de fiscalizar dados produzidos ou divulgados pelos seus subordinados.

“Eu sou ministro da Saúde, não sou fiscal de dados do Ministério”, respondeu visivelmente irritado. Internautas chegaram a comparar a resposta de Queiroga ao episódio em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma ‘não ser coveiro’ quando questionado sobre o número de mortes por Covid-19 no Brasil, em abril de 2020.

Jornalistas procuravam esclarecer como a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) teve acesso a dados pessoais e sigilosos dos médicos participantes da audiência pública do Ministério da Saúde sobre vacinação infantil.

Conforme mostrou reportagem do jornal O Globo, telefones e e-mails pessoais de médicos pró-vacina foram divulgados pela parlamentar em grupos do WhatsApp. Os documentos foram usados por grupos antivacina para promover ataques aos especialistas que defenderiam a imunização infantil em audiência pública do Ministério da Saúde na última terça-feira 4.

Ela obteve os dados a partir de fotos de documentos oficiais da pasta comandada por Queiroga, que compartilhou com aliados em grupos de mensagens. É de praxe que, antes de audiências públicas, especialistas entreguem as chamadas declarações de conflito de interesses. No documento são indicadas as empresas para as quais eles já prestaram serviços e em quais ramos de atividade. Via de regra, essa documentação é tornada pública apenas após o tratamento de dados, quando são retiradas informações pessoais, como CPF, telefone, endereço e e-mail.

Na conversa, Queiroga disse que os repórteres teriam que questionar a deputada sobre como teve acesso aos arquivos sigilosos que estavam em posse do seu ministério. Na quinta-feira 6, ela já havia se justificado, alegando que entendeu que os documentos em posse do Ministério da Saúde eram públicos. Ela, que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça, no entanto, não deixou claro como recebeu a documentação completa.


Os médicos Isabella Ballalai, Marco Aurélio Sáfadi e Renato Kfouri relataram que, após o vazamento dos dados, receberam agressões, ataques e ameaças de grupos radicais antivacina.

Em nota, a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid ligada ao Ministério da Saúde, disse que “não autorizou ou disponibilizou para divulgação o documento ‘Declaração de Conflito de Interesses’ assinada pelos participantes convidados para a Audiência Pública”. O órgão ainda informou que “não compactua com a divulgação de dados pessoais sem o consentimento dos envolvidos”.

Na conversa com jornalistas, Queiroga tentou ainda insinuar que a audiência pública realizada na última terça-feira 4 não seria de responsabilidade do seu ministério. Em meio aos questionamentos disse que o evento teria sido realizado em prédio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Ao fazer a insinuação, foi corrigido ao vivo pelos repórteres, que informaram que o local apenas foi cedido ao governo federal para realização do evento. O ministro então desconversou e voltou a afirmar que o correto seria questionar a deputada Bia Kicis.

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