Política

Mulheres Yanomami pedem fim do garimpo ilegal em carta a Lula

Ameaças, poluição das águas potáveis, abuso sexual infantil e aumento da malária são algumas das denúncias feitas pelas lideranças

Os yanomâmis foram as principais vítimas da violência no campo
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Lideranças femininas da população Yanomami, da região Norte da Amazônia, escreveram uma carta ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para reivindicar o fim do garimpo ilegal nas terras indígenas com urgência. 

“Estamos com medo de comer os peixes doentes. Estamos com medo de que nossas crianças fiquem deficientes”, diz um trecho da carta, assinada por 49 pessoas na última segunda-feira 12 durante o XIII Encontro Anual de Mulheres Yanomami.  

Em três páginas, em português e na língua Yanomami, elas expõem as consequências de extrema violência para os povos diante a permanência do garimpo ilegal

“A presença do garimpo causa conflitos que levam à retirada das equipes de saúde de área. Há hoje muitos postos de saúde na Terra Indígena Yanomami que estão fechados”, afirmam, “antes, quando não tinha tantos garimpeiros, as doenças eram poucas. Em algumas regiões do território Yanomami, nossas crianças estão morrendo por malária, desnutrição, pneumonia e até por infestação de vermes“.

Os dados do relatório Yanomami Sob Ataque mostram que a partir de 2020 o número de infectados por malária na comunidade Palimiú superou 1.800 casos, o que significa uma média de quase dois casos de malária por pessoa. 

Fonte: Sivep-Malária.

Outros impactos da contaminação por mercúrio na população são a má formação congênita, neoplasias e doenças no sistema nervoso. 

As denúncias vão além: esta comunidade, por exemplo, é alvo de ataques de garimpeiros armados desde 10 de maio, por conta da exploração ilegal de ouro. O caso deixou feridos, mortes e uma alta tensão na região, com correria em fuga e troca de tiros dos invasores com a Polícia Federal. 

“Os garimpeiros nos ameaçam e nós não queremos viver assim, queremos viver em paz”, pedem na carta.  

Após o ataque, indígenas improvisaram trincheiras — Foto: Marcelo Marques/Rede Amazônica

Ao todo, a etnia Yanomami totaliza quase 35.000 indígenas que vivem em cerca de 200 a 250 aldeias na fronteira do Brasil com a Venezuela. 

Somada às questões sanitárias, as lideranças indicaram a urgência de contenção dos ataques, estupros e o aliciamento de mulheres no território.

Em maio deste ano, uma menina Yanomami de 12 anos da comunidade Aracaçá, em Roraima, foi assassinada depois de ser estuprada pelos garimpeiros. 

Um dos casos violentos mais conhecidos foi o de três bebês indígenas enterrados em Boa Vista sem a autorização das famílias. Após serem retirados da Terra Yanomami para fazer outros tratamentos, as crianças foram infectadas pelo Covid-19 nas unidades de saúde.

As mães passaram mais de um mês sem saber onde estavam seus filhos. 

“Queremos continuar vivendo na nossa terra, comer alimentação saudável e beber água limpa. Tire os que estão invadindo a Terra Yanomami. Faça as operações para tirar os garimpeiros e suas máquinas”, escrevem as mulheres ao final da carta. 

Elas também indicam que o grupo criou um Plano de Gestão Territorial e Ambiental para nortear as ações governamentais e pediram pela implementação do projeto. “Nós mulheres Yanomami confiamos que você trabalhará para que nossas crianças vivam com saúde na nossa terra-floresta”.

Leia a carta na íntegra: 

Carta das mulheres ao presidente eleito (1)

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