Mulheres brasileiras ganham quase 20% a menos do que os homens

Levantamento do Relatório de Transparência Salarial confirmou a desigualdade salarial entre homens e mulheres

Peso. A falta de autonomia para solucionar reclamações e um histórico de arrocho salarial afetam o atendimento ao consumidor e o trabalho nas teles - Imagem: Luciano Lanes/Prefeitura de Porto Alegre e iStockphoto

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As mulheres brasileiras ganham, em média, 19,4% a menos do que os homens. O fosso é ainda maior conforme o tipo de trabalho. Em cargos de diretoria e gerência, por exemplo, a desigualdade salarial chega a 25,2%.

Os dados são do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critério Regulatórios, apresentado pelos ministérios do Trabalho e Emprego e da Mulher, nesta segunda-feira 25.

No recorte por raça, as mulheres negras, além de estarem em menor número no mercado de trabalho, são as que têm renda mais desigual.

Enquanto a remuneração média da mulher negra é de 3.040,89 reais, correspondendo a 68% da média, a dos homens não-negros é de 5.718,40 reais — 27,9% superior à média. Elas ganham 66,7% da remuneração das mulheres não negras.

O levantamento usou dados enviados por quase 100 estabelecimentos, com 100 empregados ou mais. Juntas, as empresas somam quase 17,7 milhões de empregados.

Entre as empresas pesquisadas, 51,6% possuem planos de cargos e salários adotando critérios de remuneração baseados parâmetros subjetivos, como proatividade, capacidade de trabalhar em equipe e horas extras.


Esses parâmetros baseados na disponibilidade para o trabalho são atingidos mais pelos homens do que penas mulheres que, em geral, precisam dividir o seu tempo entre o trabalho e cuidado com os filhos e familiares.

Outro dado que aponta pouca eficácia das políticas que visam a igualdade salarial é a baixa adoção de políticas de incentivo a contratação de mulheres.

Entre as empresas analisadas pelo levantamento, apenas 32,6% delas possuem processo seletivos voltados para a contratação de mais mulheres.

Os números são ainda menores quando se considera as empresas que possuem processos seletivos voltados para contratação de mulheres negras, com deficiência, LGBTQIAP+, mulheres que chefiam as suas famílias e vítimas de violência.

Poucas empresas ainda adotam políticas como de flexibilização de regime de trabalho para apoio à parentalidade (39,7%), de licença maternidade/paternidade estendida (17,7%) e de auxílio-creche (21,4%).

Ao analisar a desigualdade salarial entre os entes federativos, foi possível constatar diferenças significativas.

O Distrito Federal, por exemplo, é a unidade da Federação com menor desigualdade salarial entre homens e mulheres: elas recebem 8% a menos que eles.

Em São Paulo foi constatada a maior diversidade de situações. As mulheres recebem 19,1% a menos do que os homens, espelhando praticamente a desigualdade média nacional.

A coleta dos dados foi possível pela exigência de envio das informações prevista na Lei nº 14.611, que dispõe sobre a regulamentação da igualdade salarial entre homens e mulheres, sancionada pelo presidente Lula (PT), em julho de 2023.

Próximos passos

O levantamento permitiu analisar a situação do mercado de trabalho brasileiros e propor soluções.

Empresas com diferença salarial identificada serão avisadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e terão 90 dias para criar um Plano de Ação para reduzir essas diferenças sem justificativa. Para denunciar desigualdades salariais, pode-se usar a Carteira de Trabalho Digital do MTE.

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