Política
Moro usa vídeo de Bolsonaro para atacar Lula e reforça ‘tabelinha’ com o presidente
O ex-juiz alega que Lula não foi inocentado pela Justiça; para advogado, Moro ‘não tem compromisso com a verdade’


O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), candidato ao Senado pelo União Brasil, reforçou nesta sexta-feira 16 sua reaproximação com Jair Bolsonaro (PL), de quem supostamente se afastou ao deixar o cargo de ministro da Justiça, em abril de 2020.
Incapaz de viabilizar sua candidatura à Presidência, Moro tentou se lançar a senador por São Paulo, mas teve a mudança de domicílio barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral. Decidiu, por fim, concorrer à Casa Alta por seu estado natal.
Nas últimas semanas, o ex-magistrado da Lava Jato deu sinais de uma “reconciliação” com Bolsonaro. O movimento ganhou tração nesta sexta, quando Moro publicou nas redes sociais uma propaganda eleitoral do ex-capitão na íntegra, a fim de atacar o ex-presidente Lula (PT).
O vídeo alega que Lula não teria sido inocentado pela Justiça. Usa recortes de telejornais, trechos de delações premiadas e comentários de figuras como o jurista Ives Gandra. Trata-se de mais uma tentativa de Bolsonaro – e de Moro – de ampliar a rejeição a Lula por meio de acusações de corrupção.
Para o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Grupo Prerrogativas, Moro “não tem compromisso com a verdade” e é responsável direto pela ascensão de Bolsonaro à Presidência.
“Lula é inocente, sempre foi, e nenhuma justificativa retórica poderá sustentar o oposto. Foi vítima de uma perseguição implacável promovida por atores do sistema de Justiça que tinham interesses políticos e eleitorais que ficaram claros após o anúncio de suas candidaturas”, disse Carvalho a CartaCapital, em referência também ao ex-procurador Deltan Dallagnol, postulante a deputado federal pelo Podemos no Paraná.
Segundo o advogado, “Lula conseguiu comprovar diante do Brasil e do mundo que foi vítima de uma perseguição implacável e sem precedentes em nosso sistema de Justiça”.
No início desta semana, durante um evento de campanha no Paraná, Moro já havia se referido ao PT como “um adversário histórico” e defendeu “impor ao PT uma derrota a nível nacional”.
Em abril de 2021, por 8 votos a 3, o Supremo Tribunal Federal anulou todas as condenações de Lula na Lava Jato e declarou a incompetência da Justiça Federal em Curitiba (PR). Dois meses depois, por 7 votos a 4, a Corte confirmou a suspeição de Moro.
Já em abril deste ano, o Comitê de Direitos Humanos da ONU reconheceu a parcialidade de Moro nos processos da Lava Jato contra Lula.
O colegiado também atestou que os direitos políticos do petista foram feridos por ele ter sido impedido de disputar as eleições de 2018. Após abrir caminho para a retirada de Lula do pleito daquele ano, Moro se tornou ministro da Justiça de Bolsonaro.
A ONU anotou que “a conduta e outros atos públicos do então juiz Moro violaram o direito de Lula a ser julgado por um tribunal imparcial; e que as ações e declarações públicas do ex-juiz Moro e dos procuradores violaram o direito de Lula à presunção de inocência”.
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