Política

Moro ‘desafia’ Lula a dizer para Biden que os EUA criaram a Lava Jato: ‘Isso é mentira’

O ex-juiz e pré-candidato à Presidência disse que o petista inventou ‘teoria da conspiração’, mas é público que os EUA atuaram na Lava Jato

O ex-presidente Lula e o ex-juiz Sergio Moro. Fotos: Ricardo Stuckert e Nelson Almeida/AFP
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O pré-candidato à Presidência Sergio Moro (Podemos) desafiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a dizer ao presidente americano Joe Biden que a Operação Lava Jato teria sido “criada” pelos Estados Unidos.

Em vídeo publicado nesta quarta-feira 15, Moro rebateu afirmações de Lula em entrevista à rádio Clube de Blumenau sobre a Lava Jato ter beneficiado empresas estrangeiras e “punido trabalhadores”. O ex-ministro da Justiça acusou o petista de mentir para encobrir supostos crimes relacionados ao mensalão e ao petrolão.

“Até criou uma teoria da conspiração, dizendo que foi os Estados Unidos que criou a Lava Jato. Isso é mentira”, disse o ex-juiz. “Quero ver ele falar isso para o presidente Biden, que era o vice-presidente do Obama na época dos fatos.”

O vídeo tem duração de quase dois minutos. À frente de um fundo azul, Moro diz que “o governo do PT teve os maiores escândalos de corrupção da história” e que “mergulhou o País em uma recessão”. Além disso, afirmou que “a Lava Jato salvou a Petrobras, impediu a roubalheira e impediu que ela quebrasse”.

“Diretores que foram nomeados pelo ex-presidente Lula estavam lá roubando, dia após dia, a empresa, arrecadando dinheiro para eles e para políticos enriquecerem ilicitamente, também para financiar partidos políticos. Como o ex-presidente não tem como explicar todos esses crimes, mensalão e petrolão, ele fica ali inventando histórias.”

É público, no entanto, que autoridades dos Estados Unidos estiveram vinculadas às ações da Lava Jato.

Em reportagem de junho de 2019, CartaCapital mostrou que agentes americanos atuaram dentro do Brasil na Lava Jato. Um documento registrado pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em 28 de julho de 2018, descreveu a presença de profissionais estadunidenses em diligências que tinham a empreiteira Odebrecht como foco.

Documentos do Wikileaks citados por um relatório do PT, apresentado ao Parlamento Europeu em 2019, também indicaram a realização de treinamentos de juízes, procuradores e policiais brasileiros com agentes de segurança dos Estados Unidos. Esses eventos teriam ocorrido pelo menos desde 2009, em Curitiba e São Paulo, com instruções de “métodos considerados agressivos”.

A Agência Pública mostrou em 2020, com base em diálogos da “Vaza Jato”, que o FBI teve total acesso às investigações da operação. Pelo menos 13 agentes americanos participaram das investigações em solo brasileiro e ofereceram orientações a autoridades brasileiras.

Até mesmo parlamentares dos Estados Unidos reconhecem registros de que agentes americanos forneceram apoio a promotores brasileiros na Lava Jato. Em junho deste ano, 23 congressistas assinaram e enviaram uma carta Biden em que pediram esclarecimentos sobre o envolvimento dos profissionais estadunidenses, sob a preocupação de que o processo contra Lula tenha configurado “violação da flagrante ética judicial básica”.

Em relação aos prejuízos da Lava Jato à economia brasileira, uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, constatou que a Operação foi responsável pela perda de 4,4 milhões de empregos e mais de 172 bilhões de reais em investimentos.

Em abril deste ano, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, chegou a citar em plenário o “desmantelamento de importantes setores da economia nacional, principalmente da indústria petrolífera”.

“A Operação produziu pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos do que aquele que ela avalia ter sido desviado com a corrupção”, declarou o magistrado, durante sessão de abril deste ano.

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