Política

Mônica Seixas: Defender legalização do aborto e drogas não pode ser um constrangimento

Pioneira ao se eleger, em 2018, em um mandato coletivo, ela apostou novamente neste mesmo modelo, reelegendo-se através do Movimento Pretas

A co-deputada estadual Mônica Seixas. Foto: Assessoria
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O povo preto quer viver. Foi com essa frase estampada em uma imensa faixa amarela que a co-deputada Mônica Seixas participou da cerimônia de diplomação dos parlamentares eleitos na Assembleia Legislativa de São Paulo, na última segunda-feira 19. A manifestação dá o tom de como atuará a oposição na Alesp – agora contra o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). 

“O governador eleito já chega com propostas que nos afetam diretamente: desde a dubiedade sobre manter ou não a câmera nos uniformes dos policiais militares, até o aumento da violência da polícia, e a ameaça de venda da Sabesp”, alerta. 

O anúncio dos primeiros nomes que vão compor o gabinete do novo governo já demonstram que ela e outros colegas da oposição terão muito trabalho pela frente. Nesta quarta 21, por exemplo, Tarcísio nomeou para chefiar a Secretaria da Mulher a vereadora Sonaira Fernandes, também do Republicanos. Evangélica e conservadora, a parlamentar se apresenta nas redes sociais como ‘a vereadora da família em São Paulo’. Antes, foi assessora parlamentar do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). 

Pioneira ao se eleger, em 2018, em um mandato coletivo, ela apostou novamente neste mesmo modelo, reelegendo-se através de um novo coletivo, o Movimento Pretas, composto por sete mulheres de diferentes movimentos e segmentos sociais. “A gente já não chama mais de candidatura coletiva, é movimento.” Desta vez, comemora, a cerimônia de diplomação reconheceu todas as integrantes da bancada, foram nomeadas uma a uma das parlamentares, diferente de 2018, quando o modelo coletivo era novidade, e a Justiça Eleitoral ainda relutava em reconhecer este tipo de candidatura. 

Para Seixas, o reconhecimento da bancada pela Justiça Eleitoral é um avanço. Ela alerta, porém, que o modelo de candidatura coletiva ainda está distante do ideal. “A gente faz uma gambiarra para dar voz a muitas mulheres que, sozinhas, talvez não tivessem espaço. É um movimento de uma puxar a outra mesmo”, explica. “Isso demonstra o quanto falta representatividade no nosso sistema eleitoral. Falta espaço para mulheres pretas, para indígenas, para pessoas trans. A candidatura coletiva é uma forma de trazer todo mundo.” 

Se, em São Paulo, a bancada terá muitos desafios a enfrentar diante de um governador bolsonarista, quando o assunto é conjuntura nacional, a história não é muito diferente – apesar da chegada de Lula à presidência. O governo, avalia Seixas, será uma arena de luta onde o campo progressista precisa se reposicionar para não perder de vista bandeiras históricas. “Não é porque o Lula foi eleito em uma frente amplíssima que agora nós, as feministas, vamos abandonar bandeiras que são caras para a gente, como a legalização do aborto, o desencarceramento do povo preto, a legalização da maconha, a desmilitarização da Polícia Militar”, defende “Levantar essas bandeiras não pode ser um constrangimento.” 

Durante a última semana, o PSOL fez um debate intenso para definir se iria compor ou não o governo Lula, e anunciou, por fim, no que vai manter distância do Executivo para preservar a autonomia partidária – embora se disponha a oferecer apoio no Congresso e tenha liberado alguns de seus quadros a aceitar cargos em ministérios. Para Seixas, este é o momento de reorganizar a base popular para pressionar o governo desde baixo e à esquerda. “Nossas pautas históricas não podem ser silenciadas em nome do ‘menos pior’. Mais do que nunca, é o momento de se reorganizar e fazer pressão popular nas ruas”. 

Levar adiante as pautas mais complexas, não significa, no entanto, deixar de lado questões urgentes. Depois de quatro anos de governo Bolsonaro, mais de 30 milhões passam fome e quase metade da população convive com o fantasma da insegurança alimentar. “E o que o Bolsonaro fez? Fez as pessoas acreditarem que o problema é o outro. E que a solução é a violência, é atacar o outro, matar. A gente precisa desfazer esse raciocínio, e isso só será possível com muito diálogo e respostas rápidas. As pessoas têm fome, e isso deve ser resolvido agora.” 

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