Ministro confirma que irmão de Bolsonaro agiu para destravar verba para município

Ao menos R$ 10 milhões foram repassados a Miracatu via emendas do orçamento secreto nos últimos dias de 2021

O ministro João Roma. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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O ministro da Cidadania, João Roma, confirmou nesta sexta-feira 7 ter se reunido com Renato Bolsonaro, irmão do presidente Jair Bolsonaro, para discutir a liberação de recursos para Miracatu (SP). Renato é chefe de gabinete do prefeito Vinícius Brandão, filiado ao PL – mesmo partido do ex-capitão.

 

 

Nos últimos dias de 2021, o município paulista recebeu 35 milhões de reais em verbas da União. O montante foi reservado para gasto entre 17 e 30 de dezembro pelos ministérios do Desenvolvimento Regional, da Agricultura, da Cidadania e do Turismo. Ao menos 10 milhões de reais saíram das emendas de relator, que formam o chamado orçamento secreto. As informações são do jornal O Globo, que obteve dados do Portal da Transparência.

Do total das verbas destinadas a Miracatu no fim do ano passado, 9,5 milhões de reais saíram dos cofres da Cidadania.


“Ele [Renato] é irmão do presidente, circulou (nas outras pastas) e, talvez até pelo jeito dele, suave, todo mundo tem vontade de ajudar o cara. Dá vontade de ajudar. Mas (ele) não é aquela pessoa que fica vendendo prestígio. Não é dessas criaturas que a gente vê em Brasília a vida toda”, disse Roma ao jornal.

O ministro bolsonarista afirmou que se reuniu com Renato em novembro de 2021 e soube de “uma ação” em Miracatu. “Ele foi todo humildezinho: ‘Ô, ministro, têm um negócio para resolver no município’. Parece que ele estava há um ano e meio batendo cabeça com essa quadra. Aí, eu anotei e resolvi. Na semana seguinte, já tinha resolvido o assunto e eu tinha dotação orçamentária. Resolvi rápido”, completou.

Além de Roma, há registros de encontros de Renato Bolsonaro com outros ministros, como Milton Ribeiro, da Educação, a quem o irmão do presidente agradeceu nas redes sociais pelos “presentões” a Miracatu. Ele se referia à construção de uma nova escola e à de um campus do Instituto Federal de São Paulo no município.

Cidades vizinhas a Miracatu não recebem o mesmo tratamento. Peruíbe, por exemplo, ainda aguarda a liberação de valores que não obrigatórios, conforme registrou o prefeito Luiz Maurício (PSDB) ao Globo.

“A gente tem os recursos federais, mas são aqueles de repasses obrigatórios. Eu gostaria muito de ter um recurso desses chegando para o município. Apanhei muito dos militantes de Bolsonaro quando ele veio aqui na minha cidade comer pastel. Eu queria mostrar para ele os problemas do município, cobrar recursos, mas ele comeu pastel e foi embora”, destacou.

Renato e o prefeito Brandão não se pronunciaram. Parte dos ministérios também optou pelo silêncio. Já as pastas da Agricultura e do Turismo disseram que os repasses “seguiram todos os normativos técnicos e legais, e de forma transparente”, e que os valores seriam recursos já programados pelos órgãos.

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