Política
Milton Ribeiro agora diz que mentiu para a filha em telefonema ao citar ligação de Bolsonaro
Em ligação interceptada pela Polícia Federal em junho o ex-ministro disse à filha que havia recebido um alerta do presidente sobre atuação da PF


O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro falou pela primeira vez, nesta sexta-feira 23, após ter sido preso pela Polícia Federal em junho. Em entrevista ao site “Antagonista“, Ribeiro afirmou que mentiu para a filha ao dizer que o presidente Jair Bolsonaro havia telefonado para ele para falar sobre a atuação da PF no caso.
Ribeiro foi preso em junho após denúncias de que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos atuavam como lobistas no Ministério da Educação (MEC). Segundo as acusações, os religiosos negociavam propina em troca de facilitar o acesso a recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Nesta sexta-feira, o jornal “Estado de S. Paulo” publicou uma entrevista com o empresário e candidato a deputado estadual pelo PP no Pará Ailson Trindade, que afirmou que Ribeiro deu aval para que contratos do governo federal fossem negociados em troca de propina para os pastores. Ribeiro negou as acusações e afirmou que há cunho eleitoreiro nas denúncias.
Em uma ligação interceptada pela Polícia Federal em junho, o ex-ministro afirmava à filha que havia sido alertado por Bolsonaro sobre possível atuação da PF. Ao ser questionado sobre o tema nesta sexta durante entrevista, Ribeiro afirmou que mentiu à filha para prepará-la.
— Eu queria de alguma maneira prepará-las (a filha e a sogra) para uma possível entrada, vinda ou pedido de uma intervenção policial em casa, busca e apreensão, como de fato aconteceu. Então, se eu cometi um erro nesse episódio, esse foi o meu erro. Alguns advogados me disseram que seria possível acontecer isso. Se o presidente houvesse me ligado, eu nem estaria na casa (no momento da prisão), fecharia tudo e iria para o interior, para outro lugar. Se ele me desse uma informação tão precisa… Eu não recebi ligação nenhuma do presidente, falei isso para dar a elas (filha e sogra) um caráter mais de seriedade e prepará-las — afirmou Ribeiro.
O ex-ministro disse ainda que cometeu uma “grande falha” ao mencionar o nome de Bolsonaro:
— Essa foi a grande falha que cometi e, agora, de maneira direta ou indireta, querem envolver o presidente. Se ele tivesse informações privilegiadas eu teria outro tipo de informação, jamais seria preso, jamais ia surgir busca e apreensão na minha residência.
Ribeiro foi o quarto ministro da Educação do governo Bolsonaro e pediu demissão em março, após as denúncias a respeito da atuação de pastores na pasta. O ex-ministro negou que tivesse proximidade com os religiosos e que soubesse dos supostos pedidos de propina.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Delegado indicia cúpula da PF sob acusação de descumprir ordem judicial de transferir Milton Ribeiro para Brasília após prisão
Por Agência O Globo
‘Passei de investigador para investigado’, afirma delegado da PF responsável por inquérito contra Milton Ribeiro
Por Agência O Globo
Gestão de Milton Ribeiro no MEC teve pedido de propina escondida em pneu, diz jornal
Por CartaCapital