Política

Metrô só ouviu cerca de 300 pessoas para trocar nome de estação Paulo Freire

Pesquisa foi feita com base em pontos urbanos, diz Metrô de São Paulo

Trem chegando na estação Eucaliptos do Metrô
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São Paulo acaba de perder uma estação de metrô que homenagearia o educador Paulo Freire – em março, o metrô decidiu trocar o nome de Freire pelo do bandeirante Fernão Dias, notório caçador e escravizador de indígenas.

A decisão foi tomada através de uma pesquisa que ouviu apenas 316 pessoas entre 26 de outubro e 16 de novembro de 2022, segundo detalhes obtidos através da Lei Acesso à Informação (LAI) pela Agência Pública.

Enquanto 182 pessoas escolheram o nome Fernão Dias (57%), 94 votaram pelo de Paulo Freire (29%) e 45 como Parque Novo Mundo (14%).

A diferença entre os votos para Fernão Dias e Paulo Freire foi de menos de 90 votos.

A expansão da linha verde vai conectar Vila Prudente, na Zona Leste da cidade, ao município de Guarulhos, na região metropolitana, e deve transportar mais de 1,7 milhão de pessoas diariamente.

A nova estação ficará na divisa entre os municípios e, embora a construção não tenha começado, desde 2013 leva o nome do educador — ele foi usado em todo o processo de desapropriações e nos projetos arquitetônicos que concorreram à licitação para a construção.

Pesquisa

Segundo a resposta à Lei de Acesso à Informação, o estudo de nomenclatura é uma “prática consolidada”, que inclui um levantamento topográfico da região para detectar referências urbanas próximas que podem dar o nome às estações; e uma pesquisa com moradores e usuários do entorno das estações, num raio de 600 metros.

A amostragem costuma ser de 300 casos por estação, estratificada segundo sexo e idade — mas a resposta não especifica o sexo nem a idade dos respondentes. O objetivo do estudo é que a localização seja de fácil identificação pela população.

O resultado da Pesquisa foi:

O nome Fernão Dias refere-se à rodovia de mesmo nome, que liga os dois municípios, enquanto Paulo Freire refere-se à avenida, segundo a resposta, assinada por Marcello Borg, coordenador dos Serviços de Informação ao Cidadão da Companhia do Metrô de São Paulo. Segundo ele, “não houve alteração de nome”, que era provisório. “O Metrô não “cria” nomes, mas pesquisa as referências urbanas já existentes no entorno de cada estação”, escreveu.

No comunicado oficial, Borg explica que a avenida Paulo Freire “é pouco conhecida” pois é uma continuação da rodovia Fernão Dias. “O trecho é referido por muitos como Fernão Dias. Esta, provavelmente, a razão do número menor de menções”.

Borg defende ainda que “ao contrário dos nomes dados a muitos logradouros públicos, as denominações dadas às estações do Metrô de São Paulo não são outorgadas em homenagem a personalidades”.

A troca do nome tem sido alvo de críticas por homenagear um personagem com histórico de exploração de populações indígenas, em vez de um notório intelectual. Patrono da educação brasileira, Paulo Freire revolucionou o ensino ao criar a Pedagogia do Oprimido, que propõe uma postura de diálogo baseada em situações cotidianas dos alunos.

Durante o governo Bolsonaro, Paulo Freire foi alvo do Ministério da Educação, que se recusou a celebrar os cem anos do educador, em 2021.

Após a mudança de nome ser revelada pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, a vereadora Jussara Basso, do PSOL, enviou ao procurador-geral de Justiça de São Paulo um pedido de esclarecimentos ao governador Tarcísio de Fretas (Republicanos) sobre a mudança de nome. Segundo ela, “há indícios, no caso em comento, de violação da impessoalidade” movido por cunho ideológico.

Nos últimos anos, houve duas trocas de nomes de estações do Metrô e da CPTM por projetos de lei ou decretos. A estação Liberdade do metrô virou “Japão Liberdade”, uma homenagem à diáspora japonesa, e a estação de trem Mendes-Vila Natal ganhou o nome de Bruno Covas, ex-prefeito de São Paulo que morreu aos 41 anos de câncer.

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