Política

Marina Silva: com Lula, Brasil não vai mais à COP como ‘chantagista’, mas como protagonista

Um dia depois de ser eleito, o petista foi convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi, a participar da COP27, sediada no país árabe, com início na semana que vem

Marina Silva e Lula. Foto: Ricardo Struckert
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Ela teve um papel importante na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, ao dar força ao viés ambiental à candidatura do petista. Marina Silva está de volta aos holofotes da política nacional – junto com a ex-ministra Izabella Teixeira, é a mais cotada para ser a próxima ministra do Meio Ambiente do Brasil a partir de 1° de janeiro.

Em entrevista à RFI, a ex-senadora sugere que as mágoas com o PT, partido do qual se desfiliou em 2008, estão superadas. A ex-ministra, que chefiava a pasta ambiental no período em que o país deu início à maior queda do desmatamento já vista na Amazônia, garante que o país agora voltará às Conferências do Clima da ONU no papel de protagonista.

Um dia depois de ser eleito, o petista foi convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi, a participar da COP27, sediada no país árabe, com início na semana que vem. Marina Silva já previa ir ao evento, durante o qual Lula deverá anunciar o nome do futuro ministro ou ministra do Meio Ambiente.

“Eu sempre dizia que estava aberta ao diálogo com o ex-presidente Lula e a sua campanha, porque nós tivemos um afastamento político, mas nunca mantivemos qualquer desavença pessoal. Mas eu queria que essa conversa fosse em bases programáticas”, ressaltou.

“Ele assumiu uma plataforma que eu considero absolutamente relevante e estratégica para o Brasil. Lula não só se comprometeu prontamente como tem tido manifestações altamente corajosas e necessárias de dizer que a política ambiental brasileira é transversal, que a questão climática e o combate ao desmatamento estarão no topo das suas prioridades e que a questão indígena estará igualmente entre elas, de forma estratégica”, explicou Marina.

Fazer o dever de casa para ‘liderar pelo exemplo’

O tema, de fato, ganhou destaque no discurso da vitória de Lula no domingo, quando prometeu zerar a devastação da Amazônia. Durante os anos Bolsonaro, o Brasil perdeu acesso a muitos fundos internacionais, condicionados a resultados positivos no combate ao desmatamento. Mas tão logo Lula foi declarado vencedor, Noruega e Alemanha, os principais financiadores do Fundo de Preservação da Floresta Amazônica, anunciaram que vão retomar a transferências de recursos em 2023.

“É claro que se quer buscar mais e mais recursos, mas o Brasil não condiciona fazer o seu dever de casa a esses recursos. Vai acabar o tempo da chantagem climática”, destacou Marina. “O governo Bolsonaro ia para a COP para fazer chantagem – ‘se nos derem o dinheiro, nós vamos combater o desmatamento’. O Brasil não está indo como chantagista, mas sim como aquele que quer ajudar a resolver o problema”, salientou a deputada federal recém-eleita, pela Rede.

Para ela, Brasília vai reconquistar o espaço perdido nos fóruns internacionais sobre as mudanças climáticas ao “liderar pelo exemplo”. A ex-ministra lembra que, no passado, o Brasil ajudou a criar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e foi o primeiro país em desenvolvimento a assumir metas de redução de gases de efeito estufa e a fazer aportes financeiros para o Fundo de Adaptação e Mitigação, que beneficia os países mais pobres do globo.

Reestruturar organismos ambientais desmantelados sob Bolsonaro

No âmbito nacional, o primeiro passo será recompor as equipes de especialistas que foram desestruturadas nos últimos anos, em órgãos federais como Ibama e ICMBio. O desmonte resultou não só nos recordes de desmatamento nos biomas brasileiros, em especial o amazônico, como no aumento da infraestrutura para a realização de crimes ambientais.

“Hoje, tem 1264 pistas clandestinas nas áreas de fronteiras da Amazônia. Quando eu estava no governo, havia 86 pistas e já achávamos muito”, destaca Marina. Por esses acessos, são praticados todo o tipo de delitos, como tráfico de drogas e armas, mas também garimpo, exploração de madeira ou pesca ilegais.

As negociações no Congresso – marcado por uma forte presença de parlamentares antiambientais – será crucial para o país avançar no combate às ilegalidades que destroem o patrimônio natural brasileiro e comprometem as metas de emissões de CO2 do país.

“O Centrão não é homogêneo. Tem um grupo que é bolsonarista convicto, mas tem uma outra parte que, espero, entenderá a gravidade do que está posto hoje no Brasil e fará uma inflexão para viabilizar o que é importante para os interesses internos e externos do Brasil. O agronegócio brasileiro está sofrendo sérios prejuízos, porque quer ver, por exemplo, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia ser finalizado”, assinala a ex-senadora.

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