Política

Lula traça estratégia para o 2º turno e busca costurar novos acordos

O ex-presidente demonstrou força com reunião entre governadores e parlamentares; próximos dias serão cheios de articulações

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante votação em São Bernardo do Campo (SP). Foto: Ricardo Stuckert
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A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem uma série de conversas planejadas para os próximos dias com o objetivo de atrair novos apoios à sua candidatura.

Esta quarta-feira 5 foi de boas notícias para a campanha. Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) receber o endosso dos governadores dos três maiores colégios eleitorais, Lula promoveu um evento de demonstração de força com governadores e parlamentares que o apoiam.

O destaque do encontro foi a presença do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), reeleito com mais de 70% dos votos, o maior percentual do Brasil. Outra figura do MDB presente no evento foi o senador Renan Calheiros (AL). Lula também recebeu formalmente apoio de Carlos Lupi, presidente do PDT, e de Simone Tebet (MDB).

Além disso, outro sinal importante foi o de Michel Temer (MDB). Helder Barbalho disse ter ouvido do ex-presidente a intenção de não anunciar apoio a nenhum dos candidatos.

A agenda de Lula nos próximos dias será na Região Metropolitana de São Paulo e no interior do estado: São Bernardo do Campo na quinta, Guarulhos na sexta e Campinas no sábado. A campanha não havia passado por esses municípios, exceto por um ato em uma fábrica em São Bernardo no início do primeiro turno. Há uma cobrança do eleitorado para que Lula ample sua presença no interior paulista. O ex-presidente considera realizar atividades em municípios como São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.

A campanha também vê a necessidade de virar votos no estado que elegeu Bolsonaro para não permitir que ele amplie a sua vantagem, ainda mais agora que o atual presidente obteve o apoio de Rodrigo Garcia (PSDB) e tem o seu candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) na dianteira do primeiro turno contra Fernando Haddad (PT).

Aliados de Lula citam como fator de complicação a desmobilização logística que o fim da eleição proporcional impõe. Assim, o petista pode perder alcance não só em São Paulo, mas em outros estados.

O remédio é tentar mobilizar prefeitos. Com o cenário apertado em São Paulo, o plano é que Geraldo Alckmin (PSB) articule nos próximos dias uma grande reunião com prefeitos. A coordenação ainda não tem ideia de quantos nomes o ex-tucano pode congregar, mas há uma expectativa otimista de uma foto com muitos apoiadores. Além disso, o ex-governador deve investir mais tempo com Haddad nas agendas enquanto Lula roda o Brasil.

O ex-presidente Lula. Foto: Miguel Schincariol/AFP

Outro anseio da campanha é atrair a ex-prefeita Marta Suplicy (MDB) para a campanha de Haddad. Com nome de impacto nas periferias, ela poderia ajudar o candidato a chegar a locais que ele ainda não alcançou. Apesar de já ter manifestado apoio a Lula, Marta ainda não se engajou na campanha do postulante petista em São Paulo.

Nesta quarta, Marta sediou em sua casa um almoço entre Lula e Simone Tebet, mas não houve divulgação de imagem. Até sábado, alguns aliados cogitam a realização de uma nova reunião entre Lula e Tebet e talvez uma foto. O ex-presidente espera que a senadora participe de agendas com a sua campanha. A governadora Fátima Bezerra (PT) disse desejar uma atividade com Tebet e mulheres no Rio Grande do Norte.

Os petistas também devem se reunir com quadros do PSD na quinta-feira. Depois de São Paulo, a preocupação de Lula seguirá no Sudeste. Há uma agenda para Belo Horizonte (MG) no domingo 9 e para o Rio de Janeiro na terça-feira 11. No Rio, deve se reencontrar com quadros do PDT, como Carlos Lupi e Rodrigo Neves, derrotado na disputa a governador.

Enquanto Lula tenta reduzir distância para Bolsonaro no Sudeste, aumentam rumores de que o ex-capitão fará uma comitiva evangélica com aliados de extrema-direita para virar votos no Nordeste.

Lula deve retornar aalguns estados do Nordeste em que o PT disputa o segundo turno, como a Bahia, com Jerônimo Rodrigues, e Sergipe, com Rogério Carvalho. Segundo o ex-presidente, o plano é voltar a todos os estados que tenham segundo turno com candidatos aliados. Lula já indicou a intenção de viajar à Bahia nos próximos dias, mas a preferência seria estar presente em uma cidade grande do interior, como Vitória da Conquista, e não em Salvador.

Na reunião, o petista citou o plano de visitar os três estados do Sul. A conjuntura mais adversa está no Paraná, onde Ratinho Júnior (PSD) venceu de braços dados com Bolsonaro. Já em Santa Catarina, Lula tem palanque com Décio Lima (PT), que chegou ao segundo turno atrás de Jorginho Mello (PL).

A situação do Rio Grande do Sul, estado que deu vitória a Bolsonaro, reflete um possível entendimento do PT com o PSDB. Com Onyx Lorenzoni (PL) em primeiro lugar, o PT pretendia se aproximar de Eduardo Leite (PSDB), que também chegou ao segundo turno. Mas ainda não houve avanço por algum acordo.

Outro estado em que o PT pleiteia acordo com o PSDB é Pernambuco, onde Lula obteve vitória por 65% a 29%. A disputa é entre a ex-petista Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). As conversas também não avançaram. A expectativa é de que novos diálogos ocorram a partir de segunda-feira, porque nesta semana a candidata tucana ainda estaria abalada com a morte do marido no último domingo.

Ainda não se sabe se Lula anunciaria apoio a Raquel Lyra. A situação é vista como complexa. Os aliados ainda precisam saber quais seriam as reivindicações da tucana. Além disso, há uma conjuntura em que Marília Arraes é apoiadora declarada de Lula, ao mesmo tempo em que é adversária política do PSB no estado. Uma possibilidade é de que o petista se mantenha neutro e, assim, acabe ganhando dois palanques.

Lula tem sido pressionado por diferentes vozes para aecenar mais ao centro, ainda que aliados afirmem que ele já tem feito vários gestos. A revista britânica The Economist publicou um editorial em que sugere o anúncio de um programa que inclua uma previsão de nome para o Ministério da Fazenda. Os aliados ouvidos pela reportagem, porém, defendem que Lula anuncie esse nome apenas se ganhar a eleição.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem defendido a ideia de que Lula ao menos escreva uma carta aos religiosos e ao agronegócio. A ex-ministra Kátia Abreu (PP-TO) se mostrou disposta a contribuir no que compete ao agro. Lula, porém, descartou essa possibilidade e também desmentiu o rumor de que escreveria uma “carta aos conservadores”.

Aliados de Lula estão confiantes de que vão vencer o segundo turno. Carlos Lupi chegou a estimar que Lula vai dobrar os seis milhões de votos que teve de vantagem sobre Bolsonaro na primeira etapa.

A preocupação é com a abstenção, que tende a subir. A impressão é de que muitos eleitores precisam de uma campanha forte para compreenderem que a eleição não acabou no primeiro turno. Além disso, a precariedade nos transportes públicos foi apontada como principal obstrução. Os aliados têm incentivado que os gestores locais apliquem medidas que facilitem a circulação de ônibus.

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