Política

Lula defende que a COP de 2025 seja na Amazônia: ‘O Brasil não nasceu para ser isolado’

Lula ainda se comprometeu, mais uma vez, a criar o Ministério dos Povos Originários a partir do ano que vem

Foto: Mohammed ABED / AFP
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O presidente eleito Lula (PT) afirmou nesta quarta-feira 16 que se esforçará para que a próxima COP, em 2025, seja realizada no Brasil. A declaração foi feita no evento “Carta da Amazônia – uma agenda comum para a transição climática” no espaço da Organização das Nações Unidas (ONU) no evento que, neste ano, ocorre no Egito.

“Vamos falar com o secretário-geral da ONU e vamos pedir pra que essa COP de 2025 seja feita no Brasil”, confirmou o presidente eleito. “Na Amazônia, tem dois estados para receber qualquer conferência internacional, que é o Amazonas e o Pará”.

Lula foi recebido com aplausos por centenas de pessoas ao chegar no pavilhão brasileiro da COP-27.  O local não é o oficial do Estado brasileiro, que fica a poucos metros de distância, instalado pelo ministério do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro.

Ativistas, indígenas e muitos jornalistas estavam presentes para ouvir o primeiro discurso de Lula na conferência do clima, momento que gera grande expectativa na COP-27.

No local estavam presentes a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e as líderes indígenas Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, todas eleitas deputadas federais nas eleições de outubro.

“Eu estou aqui para dizer para todos vocês que o Brasil está de volta ao mundo. Está saindo do casulo ao que foi submetido nos últimos quatro anos. O Brasil não nasceu para ser um país isolado“, discursou. “O Brasil é muito grande, é resultado de uma miscigenação extraordinária, não podemos ficar isolados como ficamos nos últimos quatro anos. O Brasil não viajava e ninguém viajava ao Brasil. Era como se estivéssemos sofrendo um bloqueio”.

Lula ainda se comprometeu, mais uma vez, a criar o Ministério dos Povos Originários a partir do ano que vem.

“Se a Amazônia tem o significado que tem para o planeta Terra, não devemos ter problemas para convencer que uma floresta viva de pé vale mais que uma derrubada”, reforçou. “Para a gente acabar com o processo de degradação que nossas florestas estão passando, vamos ter que trabalhar muito”.

No pequeno discurso, o petista também comentou o fim da eleição no País. “O Brasil vai mudar definitivamente, a democracia vai voltar a reinar no Brasil. Após a eleição, o presidente tem a obrigação de conversar com todos sem perguntar partido ou religião”, disse. “Para acabarmos com a fome, com o sofrimento dos indígenas, temos que começar a trabalhar juntos. Para a gente acabar com o processo de degradação que nossas florestas estão passando, vamos ter que trabalhar muito”.

Expectativa com o petista

Após o intenso desmatamento registrado durante o mandato de Bolsonaro, a COP27 recebe Lula ansiosa por ouvir medidas concretas sobre a proteção da Amazônia.

“O Brasil está de volta ao mundo para debater a questão climática”, escreveu Lula em sua conta no Twitter, seis semanas antes da posse.

Convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al Sisi, Lula chegou na terça-feira no balneário de Sharm el-Sheikh.

Ele teve as primeiras reuniões durante a noite, incluindo encontros com o enviado especial para o clima do governo dos Estados Unidos, John Kerry, e com o principal negociador da China na COP27, Xhi Zhenhua.

“Fiquei feliz em encontrar ontem à noite (terça-feira) com o presidente eleito Lula e fiquei animado pela forma como ele falou, para enfrentar o problema de uma vez por todas, para preservar a Amazônia”, afirmou Kerry nesta quarta-feira.

“Trabalharemos de forma diligente para alcançar este objetivo ao lado de nossos aliados, Noruega, Alemanha e outros países que estão profundamente comprometidos com isto há muito tempo”, acrescentou.

Agenda movimentada

Durante dois dias, Lula participa de pelo menos quatro eventos públicos, incluindo um discurso nesta quarta-feira às 12h (horário de Brasília), além de reuniões com políticos, líderes indígenas e representantes da sociedade civil.

Durante os atos, ele deve falar sobre seus planos para a Amazônia, onde o desmatamento médio anual aumentou 75% na comparação com a década anterior durante o mandato de Jair Bolsonaro, que termina em 31 de dezembro.

Antes da viagem, a primeira ao exterior desde sua vitória no segundo turno de 30 de outubro, Lula enviou nomes de sua confiança para preparar o terreno, como as ex-ministras do Meio Ambiente Marina Silva (2003-2008) e Izabella Teixeira (2010-2016).

Marina Silva, cotada para retornar ao cargo de ministra, afirmou que a presença de Lula, antes de mesmo de assumir a presidência, é uma “grande mensagem” e mostra que o Brasil “recupera o protagonismo climático”.

Ela destacou que o objetivo é alcançar o “desmatamento zero”, com o qual o Brasil deseja dar um “exemplo” ao mundo.

Noruega e Alemanha anunciaram, após a vitória de Lula, que estão dispostas a retomar a ajuda financeira para preservar a floresta amazônica no Brasil, depois que interromperam o apoio em 2019, pouco depois da chegada de Bolsonaro ao poder.

A Noruega é o maior contribuinte do Fundo Amazônia e, segundo o ministério do Meio Ambiente do país, há atualmente 641 milhões de dólares disponíveis.

Grandes esperanças

O Brasil concentra 60% da Amazônia, um dos principais ‘sumidouros’ de CO2 do planeta, distribuída em nove países e essencial no combate às mudanças climáticas.

O desmatamento do lado brasileiro, segundo dados oficiais, atingiu o nível máximo em 15 anos no período 2020-2021 devido ao estímulo à mineração e atividades agropecuárias pelo governo Bolsonaro.

A devastação representa quase metade das emissões de gases do efeito estufa do país, segundo a ONG Observatório do Clima.

A deputada federal eleita e líder indígena Sônia Guajajara, que está em Sharm el Sheikh, fez um apelo ao presidente eleito para “pensar com a população as políticas sociais” do Brasil.

Ela pediu, em particular, para Lula concluir em seus primeiros meses de governo a demarcação de cinco territórios indígenas.

Marina Silva defendeu com veemência a criação de uma nova Secretaria Nacional para coordenar a ação climática entre vários ministério e destacou a meta de reflorestamento de 12 milhões de hectares.

Compromisso do G20

A COP27 também avança em suas reuniões para obter uma declaração final, com negociações intensas sobre a possibilidade de um novo fundo de perdas e danos provocados pela mudança climática.

A conferência da ONU termina oficialmente na sexta-feira 18.

Na reunião de cúpula em Bali, o G20 reafirmou o compromisso de manter a temperatura média do planeta em +1,5ºC, e destacou que prossegue com o compromisso de retirar os subsídios “ineficientes” aos combustíveis fósseis.

(Com informações da AFP)

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