Justiça
Lewandowski e Castro anunciam força-tarefa após operação com mais de 100 mortes no Rio
Entre as medidas anunciadas após a a ação policial mais letal da história do Rio está a criação de um Escritório de Combate ao Crime Organizado
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, se reuniu com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), um dia após a megaoperação que matou 132 pessoas, segundo contagem da Defensoria Pública do estado. Ao fim do encontro, a dupla anunciou a criação do Escritório de Combate ao Crime Organizado para “eliminar barreiras” entre as gestões estadual e federal.
O órgão emergencial terá a coordenação do secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Santos, em parceria com Mário Luiz Sarrubbo, secretário nacional de Segurança Pública.
“A ideia é que nossas ações sejam 100% integradas a partir de agora, inclusive para vencermos possíveis burocracias. Vamos integrar inteligências, respeitar as competências de cada órgão, mas pensando em derrubar barreiras para, de fato, fazer segurança pública”, afirmou Castro em coletiva de imprensa.
A ação de terça-feira foi a mais letal da história do Rio de Janeiro. O objetivo da Operação Contenção era prender 51 pessoas suspeitas de ligação com o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha. A batida policial foi autorizada pela 42ª Vara Criminal do Rio, em decisão assinada pelo juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço.
De acordo com informações repassadas pela Polícia Civil, 113 pessoas foram presas e dez adolescentes apreendidos. Entre os detidos, 33 são de outros estados. Ainda segundo a PCERJ, foram apreendidas 118 armas, entre elas 91 fuzis.
Na coletiva, Lewandowski informou também que o governo federal apoiará o Rio com profissionais especializados em segurança pública. “Vamos reunir todos os nossos esforços, investir recursos materiais e humanos para enfrentá-lo da forma mais coordenada possível. Claro que essas forças-tarefa surgem por um tempo, são emergenciais. Mas, tendo em vista o empenho de todos nós, teremos em breve bons resultados”.
Conforme explicou , o governo federal ampliará também o número de agentes da Polícia Federal e da Força Nacional no estado, como resposta à escalada da violência. “Temos um número relativamente pequeno para patrulhar todo o território, mas, nesta situação de emergência, vamos ampliar. Também vamos aumentar, dentro do possível, o número de integrantes da Força Nacional”.
Sobre uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, Lewandowski disse que o governo federal não tem posição definida sobre o tema. “Não há nenhuma posição do governo federal contra ou a favor da GLO. Estamos acompanhando à distância e oferecendo ajuda dentro da nossa competência. Não excluímos nem recomendamos a medida. Tudo depende das circunstâncias e do próprio governador”.
Lewandowski reforçou que o mandatário fluminense terá apoio “independente de diferenças partidárias”. “Vamos conjugar as forças federais com as forças estaduais. Esse escritório emergencial tem o sentido de não criar uma estrutura burocrática permanente”, finalizou o chefe do MJSP.
Castro completou em seguida: “A situação atual é diferente de 2018. Hoje temos logística, infraestrutura. Não preciso que o governo federal venha aqui fazer o meu trabalho. O que precisamos é que cada ente faça seu trabalho de forma integrada. E repito o que falei mais cedo. O Rio tem condições de vencer batalhas, mas guerras têm que ser todo nós”.
A reunião entre os dois ocorreu um dia após Castro acusar a gestão petista de não ter prestado apoio ao Estado e negado três pedidos de ajuda às Forças Armadas – declarações que foram rebatidas por Lewandowski horas depois. O Ministério da Justiça também emitiu uma nota se posicionando sobre a operação, listando ações de combate ao narcotráfico feitas pela pasta.
A operação na capital fluminense chamou atenção do Brasil e o mundo pelo alto índice de letalidade. O chefe da ONU, António Guterres, por exemplo, afirmou estar “muito preocupado” com o saldo de mortos na ação e cobrou investigação rigorosa do caso.
Em coletiva de imprensa nesta manhã, o governador disse que a incursão pelas favelas foi um “sucesso” e marca o “início de um grande processo no Brasil”. “Tirando a vida dos policiais, a operação foi um sucesso”, afirmou. “Quero agradecer às polícias, e me solidarizar com as famílias dos quatro ‘guerreiros’ que deram a vida para libertar a população. De ‘vítima’, só tivemos os policiais”.
Na tarde desta quarta, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou que o governador do Rio forneça informações detalhadas sobre a megaoperação até a próxima segunda-feira 3. Entre outras coisas, o magistrado exigiu de Castro esclarecimentos a respeito do número oficial de mortos, feridos e detidos, medidas adotadas para garantir a responsabilização em caso de eventuais abusos e violações de direitos, e providências para assistência às vítimas e suas famílias.
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