Política

Lasier Martins: sou trabalhista, não puxa-saco de empresas

Ex-apresentador da RBS está empatado com Olívio Dutra na disputa ao Senado. CartaCapital conversou com o candidato sobre questão indígena, a influência da emissora e as críticas do petista

Ex-apresentador da RBS está empatado na disputa
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De Porto Alegre

Lasier Martins (PDT) se tornou conhecido no país inteiro por tomar um choque ao encostar em um cacho de uva há 15 anos. Em 2006, o vídeo foi colocado na internet e visto mais de quatro milhões de vezes.

No Rio Grande do Sul, porém, Lasier não é só motivo de risos. Por mais de trinta anos, ele foi jornalista da RBS, afiliada da Rede Globo no Estado. Após sair da emissora, é candidato ao Senado e aparece empatado com o ex-governador Olívio Dutra (PT). Segundo a última pesquisa Ibope, Lasier tem 30% contra 27% de Dutra, em um empate técnico.

CartaCapital conversou com o ex-apresentador, agora candidato, sobre a disputa. Lasier negou que será beneficiado pelos seus antigos colegas de emissora. Ele também reiterou sua polêmica frase em que questionou “quantos índios deixaram de ser índios e viraram profissionais respeitados”.

Nesta semana, CartaCapital publicou entrevistas com Ana Amélia e Tarso Genro, ambos candidatos ao governo do estado, e de Olívio Dutra.

Leia abaixo trechos da entrevista feita com o apresentador:

CartaCapital: Por que o senhor saiu da RBS para ser candidato?

Lasier Martins: Achei que tinha feito tudo na profissão com 53 anos no jornalismo. E como fiz a crônica política dos últimos anos, vendo o desmoronamento ético na política, me indignei com isso e disse ‘vou para a política’. Rescindi contrato com a RBS e estou aí trabalhando.

CC: O senhor e a Ana Amélia saíram da RBS para serem candidatos. Ao que atribui o fato de dois ex-jornalistas do mesmo jornal estarem liderando numericamente as pesquisas no Estado?

LM: Acho isso circunstancial. A Ana Amélia foi uma boa comentarista, sempre enveredou muito bem pela área econômica e é uma pessoa muito íntegra. E eu também, não tem por onde me pegar.

A RBS dá muita visibilidade. No passado, ela deu um governador, o Antônio Britto. Teve o Mendes Ribeiro, que foi a quem eu substituí no Jornal do Almoço, eleito deputado federal com 700 mil votos, um recorde. Com muita gente aconteceu isso, porque dá muita visibilidade. Para quem gosta de política, tem condições aí, mas não significa nenhum vínculo.

CC: Então o senhor e a Ana Amélia não têm mais nenhuma ligação com a RBS?

LM: A Ana Amélia não tem nenhum vínculo com a RBS, fechou a porta. Assim como eu. A direção da empresa não queria que eu saísse, propôs aumento do meu salário. Eu estaria ganhando bem mais do que senador se tivesse permanecido, mas estava cansado, repetitivo.

Os adversários já estão me provocando, “é o candidato da RBS”. Eu já comecei dizendo nas entrevistas: ‘eu sou candidato do RS, tira o B do meio’. Não devo nada a RBS, a não ser gratidão.

CC: Mas, após mais de duas décadas na emissora, o senhor não terá algum tratamento benéfico?

LM: Ao contrário, o tratamento é de omissão do meu nome. Quando todos os jornalistas podem se desincompatibilizar três meses antes da eleição, me obrigaram a sair um ano antes. Eu me filiei em um dia e me pediram para no dia seguinte pedir demissão.

CC: E por que o senhor escolheu o PDT?

LM: Meu pai era um fervoroso trabalhista, sempre foi muito getulista e brizolista. E era muito ligado ao trabalhismo, então foi uma homenagem a ele. Eu aprendi a gostar das ideias.Eu Fui advogado muito tempo, onde fiz justiça do trabalho. E aí eu aprendi a importância que tinha a criação da CLT. A criação da justiça do trabalho foi uma grande façanha do Getúlio.

CC: Olívio Dutra, seu adversário, chegou a dizer que a sua candidatura é “travestida de trabalhismo” e “puxa-saco” de empresários. O senhor se considera um trabalhista?

LM: Eu sou trabalhista. Trabalhei a vida inteira, desde os 16 anos. Imagina, eu trabalhava dez horas por dia. Isso não é um operário? Às vezes eu dizia [no final do Jornal] ‘por hoje esse operário da comunicação se despede’. Essa afirmação, do Olívio, é uma tentativa de me desqualificar, é ofensiva.

CC: Como o senhor avalia a gestão de Olívio à frente do governo do Estado (1999-2002)?

LM: O Olívio é um cara honesto, é um homem íntegro. Mas eu acho que ele retardou o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Principalmente por esse critério dele de não valorizar as empresas.Eu não sou puxa-saco de empresa, sempre fui empregado. Mas sem empresa não se produz o econômico, e sem econômico não se produz o social. É elementar que precisamos de empresa, mas precisamos ter controle para que cumpra a legislação e pague bem seus funcionários.

CC: O senhor fez uma declaração bastante criticada por militantes ligados à causa indígena ao questionar “quantos índios deixaram de ser índios e viraram profissionais respeitados”. O que o senhor quis dizer com isso?

LM: Eu visitei duas comunidades indígenas, há um ano e pouco. Uma em Viamão e outra em Charruá. Nas duas eu fiquei constrangido com a miserabilidade. Muito pobres, abandonados.

Então, quando me fizeram essa pergunta, eu disse o seguinte: considerando o abandono que sofrem as sociedades indígenas, eu acho que nós temos que lutar pela inclusão social do índio. Dando melhores moradias dentro da comunidade e colocando uma escola, que aí eles terão uma oportunidade de que estudando, ter uma vida mais digna e mais decente.

Poder, se quiser, se encaminhar para a vida social, pública, do trabalho. Como tem muito índio que já foi índio e hoje estão colocados na sociedade como profissionais respeitados. Foi isso que eu disse.

CC: A política indígena atual no Brasil é de que eles tenham uma vida tradicional, dentro das reservas. O senhor está propondo o contrário disso?

LM: Não, pelo amor de Deus. No Rio Grande do Sul, não sei como é lá para cima, as comunidades são miseráveis, muito pobres, são constrangedoras. Não podemos, não é possível deixar nessa miséria.  Tem que pelo menos dar uma moradia mais decente e uma escola para essas crianças aprenderem.

Hoje em dia, quantos índios deixaram de ser índios no Brasil? Acho que milhares. Quem quiser continuar com os costumes, pode continuar. Mas pelo menos ter uma moradia mais descente. O Rio Grande do Sul não é que nem Mato Grosso, que é quente. Aqui é muito frio.

CC: Mas o senhor tem alguma proposta, como senador, para mudar a política indígena?

LM: Percebi que, pela valorização que tem sido dada a minha declaração, essa é uma questão muito delicada, mas eu quero que apresentem uma solução melhor. Será que os índios estão bem? Aqui no Rio Grande do Sul há notícias que índios arrendam suas terras. É uma questão complexa, que merece mais aprofundamento com o intuito de tratar melhor o índio.

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