Política

Laranjismo no Acre resvala em Antonio Carlos Magalhães Neto

Repasse de 240 mil do DEM para candidata laranja teve assinatura do presidente do partido

Laranjismo no Acre resvala em Antonio Carlos Magalhães Neto
Laranjismo no Acre resvala em Antonio Carlos Magalhães Neto
O ex-prefeito de Salvador ACM Neto. Foto: Valter Pontes/SECOM
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A investigação de laranjismo eleitoral no Acre acaba de resvalar no presidente do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto. A assinatura de ACM Neto consta do repasse de 240 mil reais da direção do DEM para uma policial militar do Pará, que concorreu a deputada estadual do Acre em 2018. Uma operação da Polícia Federal (PF) em 20 de novembro buscou e apreendeu documentos para provar que a candidatura da PM Sonia de Fátima Silva Alves foi laranja do chefe do DEM acreano, Alan Rick, deputado federal.

A suspeita de laranjismo de Sonia em favor de Rick foi noticiada por CartaCapital em agosto. Na época, havia no DEM quem dissesse que o laranjismo tinha tido a ciência de ACM Neto. A aposta de 240 mil em Sonia não teria sido feita pela direção do partido sem negociação com Rick, o líder do DEM no Acre. A mulher de Rick, Michele de Araújo Miranda, é a tesoureira estadual da sigla.

A assinatura de ACM Neto no repasse para Sonia faz parte da prestação de contas da campanha da ex-candidata. Foi revelada nesta segunda-feira 25 pela Folha. Há ainda uma segunda assinatura, a do tesoureiro nacional demista, Romero Azevedo, segundo o jornal.

O dinheiro dado a Sonia saiu do fundo público eleitoral a que os partidos tinham direito. Era da cota destinada a mulheres. Se o beneficiário final da grana foi homem, houve aí, em tese, três ilícitos. Desvio de verba pública por quem se beneficiou do dinheiro. Falsidade ideológica por parte do inventor da candidatura. E uso de documentos falsos por quem registrou a candidatura.

Apesar de ter recebido 240 mil reais do DEM, Sonia teve apenas seis votos na eleição, o voto mais caro do País, conforme notícia de fevereiro da Folha.

Há pistas de que a candidatura da PM esteve serviço de Rick, como mostrou CartaCapital em agosto. Sonia e Rick contrataram a mesma pessoa (Jacob Gomes de Almeida Junior), e por valor igual (10 mil reais), para criar peças publicitárias gráficas. Usaram a mesma contadora (Juliana Fernandes do Nascimento), e por pelo valor igual (300 reais). Tiveram o mesmo fornecedor de adesivos e cartazes, S. Cardoso Silva (Rick gastou 343 mil, Sonia 4 mil). Houve ainda 39 mil reais dados por Rick a Sonia, para gasolina e diesel.

Outra pista é um certo aluguel de carro por Sonia. A policial gastou 6 mil reais com a locação de um automóvel Strada, placa NAA-2082. O dono era um candidato concorrente a deputado estadual, Nesio de Carvalho, do PSDB. O tucano disputou a eleição em parceria com Rick. É comum que um candidato a deputado federal e outro a estadual se juntem e um peça voto para o outro. Há imagens eleitorais a mostrar a dupla lado a lado na eleição.

No inquérito da PF, também revelado pela Folha, sobre o caso, o delegado Jacobo Guilherme da Silveira Farias de Melo, não tem dúvida sobre a responsabilidade do chefe do DEM no Acre.

“Sendo Alan Rick o beneficiado direto com os gastos de campanha da candidata e tendo ele, ao mesmo tempo, controle do comitê financeiro, que é quem responde civil e criminalmente pelas irregularidades, parece sinalizar que, sem eximir os demais membros do comitê de parte da responsabilidade, Alan Rick Miranda é responsável pelas irregularidades identificadas”, diz um relatório do delegado.

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