Justiça

Justiça impede Fundação Palmares de se desfazer de acervo considerado ‘marxista’

A decisão atende a uma ação civil popular que protesta contra lesão ao patrimônio público

Justiça impede Fundação Palmares de se desfazer de acervo considerado ‘marxista’
Justiça impede Fundação Palmares de se desfazer de acervo considerado ‘marxista’
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. Foto: Reprodução
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A Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou a proibição da exclusão e da danificação de obras pela Fundação Cultural Palmares, segundo liminar concedida nesta quarta-feira 23. A decisão foi assinada pelo juiz Erik Navarro Wolkart, da 2ª Vara Federal de São Gonçalo.

 

A liminar responde a uma ação civil popular em face do atual presidente da fundação, Sérgio Camargo, que tem anunciado a eliminação de parte do acervo que, segundo ele, apresentaria teor “marxista”. Camargo chegou a lançar um relatório em que acusa determinadas obras de “bandidolatria” e demais categorias pejorativas.

A ação argumenta que atos administrativos estão impedidos de causar lesão ao patrimônio público, histórico, cultural e ambiental, e que qualquer cidadão é “parte legítima” para propor anulação.

A decisão judicial estabelece pena de multa pessoal de 500 reais pela doação de cada item e intima Camargo a oferecer explicações sobre os atos em 15 dias.

“Por mais que eventualmente, e na visão da Fundação ou de seu principal dirigente, não haja uma correlação direta entre a finalidade da referida Instituição e os livros apontados (folhetos, folders e catálogos do seu acervo), o expurgo dos mesmos de maneira açodada, sem um amplo diálogo com a sociedade, que, ao fim e ao cabo, é a destinatária do material, pode representar prejuízo irreparável”, escreveu o juiz.

Nas redes sociais, Camargo afirmou que “o Brasil não sabia da existência da Palmares” até a sua nomeação. Acusou, ainda, a esquerda de ter tratado com “descaso” o acervo do órgão.

“Tentam reduzir negros a afro-marxistas da senzala da esquerda. Alguns aceitam o degradante papel, a imensa maioria, felizmente, escolhe a dignidade.”

O órgão é investigado pela Comissão de Cultura da Câmara por mau armazenamento do seu acervo, após a transferência da sede. Segundo denúncias, parte do patrimônio estaria encaixotado, sem condições básicas de climatização, o que favoreceria a deterioração do material. Criada em 1988, a Fundação Palmares tem como objetivo preservar a cultura afrobrasileira e a documentação referente ao seu processo histórico.

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