Política

Justiça dá 72h para Sérgio Camargo explicar mudança no logo da Fundação Palmares

O diretor argumentou que a nova identidade visual foi adotada com justificativa de que o Estado é laico

Justiça dá 72h para Sérgio Camargo explicar mudança no logo da Fundação Palmares
Justiça dá 72h para Sérgio Camargo explicar mudança no logo da Fundação Palmares
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. Foto: Reprodução
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A Justiça de São Paulo determinou que o diretor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, apresente documentos e informações que justifiquem a mudança da logomarca do logo da instituição.

A arte anterior que fazia referência a religiões de matriz africana foi substituída por uma nova, criada com cores e formas que remetem a bandeira brasileira. 

A decisão partiu de uma ação popular protocolada pela vereadora de São Paulo Erika Hilton em conjunto com movimentos militantes na causa negra. 

O novo logo foi divulgado no último dia 13. Em nota a Fundação informou que buscou “a transformação, a modernidade e a nacionalidade em seus traços”. 

Para os autores da ação, a alteração se baseia em racismo religioso promovido por Camargo, com desvio de finalidade e sem respeitar a impessoalidade, princípios básicos da administração pública.

Em decisão liminar, o juiz Victorio Giuzio Neto, da 24ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo solicita informações sobre as motivações da mudança, bem como o esclarecimento do valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), que seria utilizado para o pagamento da premiação do vencedor do concurso criado para apresentação de novas artes. 

Segundo o edital do concurso, as obras precisavam observar uma regra: obrigatoriamente “adotar formas e cores que remetam única e exclusivamente à Nação brasileira, considerando a ausência de religião do Estado. 

“O edital que prevê a mudança de logo da Fundação Cultural Palmares assume uma perseguição aos valores da instituição, sob orientação de uma agenda de violação simbólica das representações tradicionais. Como parte do sistema, a violência simbólica contra as religiões de matriz africana assume o papel de esvaziar a promoção e a valorização dos conhecimentos tradicionais, reduzindo o diálogo sobre o combate ao racismo e às desigualdades raciais nas interações da população com os espaços públicos e os equipamentos culturais. Essa categoria de violação é uma das facetas do racismo estrutural, por isso, a condução de um concurso para a logo da Palmares configura ameaça às expressões religiosas das tradições afro-brasileiras”, diz a peça inicial da ação.

Em publicação no Twitter em maio de 2021, Sérgio Camargo já havia questionado  o logotipo. 

Em entrevista dada para o portal Gazeta do Povo, o diretor argumentou que a proposta de mudança do logo deve-se ao fato do Estado brasileiro ser “laico”, não devendo, a instituição, utilizar símbolos religiosos 

Segundo a ação, o argumento utilizado é infundado, dado que o presidente Jair Bolsonaro atua no sentido de aproximar o País de suas preferências religiosas. 

“Toda a ação para alterar o logotipo da Fundação, com a finalidade de eliminar as representações afro-brasileiras do contexto do Estado, representa uma entre várias manifestações de cunho discriminatório conduzidas pela atual gestão da entidade em face da cultura e da religiosidade de matriz africana, bem como em face de representantes da luta contra o racismo no Brasil”, diz trecho do documento. 

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