Justiça
Justiça autoriza Youssef a acessar áudios de grampo clandestino da Lava Jato
A decisão partiu do juiz Guilherme Roman Borges, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR)


O juiz Guilherme Roman Borges, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), autorizou o doleiro Alberto Youssef a acessar o conteúdo do grampo clandestino na cela em que esteve preso, em 2014, no âmbito da Lava Jato.
Borges explicou, porém, que a Polícia Federal entregou o material ao Ministério Público Federal em abril de 2017 e que, desde então, o conteúdo não retornou à 13ª Vara.
“É seu direito (de Youssef) o acesso a estas escutas ambientais clandestinas realizadas no período em que esteve preso, pois, se de fato ocorreram, cabe a ele decidir se elas são ou não pertinentes a seu respeito, e não às autoridades administrativas”, escreveu o juiz no despacho, assinado na quarta-feira 3.
“Se elas ocorreram, de modo clandestino, parece-me também de interesse da sociedade que tais fatos possam ser claramente apurados, inclusive evitando responsabilização de quem sequer teve alguma relação com eles.”
A decisão também autoriza Youssef a acessar os autos das sindicâncias abertas pela PF a respeito da escuta ilegal.
Em outra frente, no último domingo 30, o corregedor nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão, estabeleceu um prazo de 15 dias para a 13ª Vara se manifestar em uma ação sobre o grampo.
Um laudo da Corregedoria da PF atesta que a gravação ilegal funcionou entre 17 e 28 de março daquele ano. Na cela onde o equipamento estava instalado havia outros quatro presos da Lava Jato: Luccas Pace, Carlos Rocha, André Catão e Carlos Alberto Pereira da Costa.
A apuração interna conduzida pela corporação nos meses seguintes concluiu que “restou comprovada a existência de indícios” da instalação do equipamento de interceptação ambiental.
Segundo o relatório, o conjunto de áudios demonstra que o equipamento foi utilizado “por pelo menos 12 dias (…) em cela da custódia da SR/DPF/PR, em época compatível com a primeira fase da Operação Lava Jato, quando foi preso, entre outros, o doleiro Alberto Youssef”.
Os próximos passos da defesa podem ser decisivos para o caso, um dos mais simbólicos da história da Lava Jato. Há a possibilidade de o doleiro pedir a anulação ou a revisão de sua delação premiada. Não se descarta, também, a chance de ele buscar algum tipo de reparação judicial pelo grampo clandestino.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

CNJ arquiva processos contra juízes da Lava Jato em Curitiba
Por CartaCapital
Odebrecht aceita proposta do governo sobre multa de acordo de leniência da Lava Jato
Por CartaCapital
Lava Jato: CNJ decide derrubar o afastamento de juízes do TRF-4
Por CartaCapital