Política

‘Já sumiu um com dona Michelle’: as conversas de assessores de Bolsonaro sobre ‘presentes’ recebidos

Um relatório da PF enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, aponta tentativa de vender um conjunto em leilão

Bolsonaro e Michelle, que luta - sem sucesso - para reverter a rejeição do ex-capitão entre as mulheres. Foto: Alan Santos/PR
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A Polícia Federal obteve acesso a mensagens trocadas por assessores do então presidente Jair Bolsonaro sobre a venda de presentes recebidos em viagens oficiais pelo governo do ex-capitão.

O relatório com os diálogos foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou uma operação de busca e apreensão cumprida nesta sexta-feira 11 contra:

  • o general do Exército Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • o segundo-tenente do Exército Osmar Crivelatti, braço direito de Mauro Cid;
  • o advogado Frederick Wassef, que defendeu a família Bolsonaro em diversos processos.

Em um dos arquivos, Marcelo Câmara, então assessor de Bolsonaro, conversa com Mauro Cid. Neste caso, o diálogo se referia ao chamado Kit Ouro Rose, contendo itens da marca de luxo Chopard.

O relatório da PF aponta a tentativa de vender o conjunto. No documento, há um link para “página de um leilão, ao vivo, realizado exatamente no dia 8 de fevereiro de 2023, mesma data em que MAURO CID questiona NICHOLAS LUNA pelo fato de o ‘kit’ não ter sido vendido”.

Nicholas Luna é vinculado à empresa Fortuna Auction, de Nova York, especializada em leilões de joias e relógios de luxo.

Em 13 de fevereiro, Marcelo Câmara enviou a Cid uma mensagem na qual afirma ter conversado com Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República.

No diálogo, Câmara se refere à possibilidade de vender objetos que teriam sido destinados ao acervo privado de Bolsonaro.

“Eu falei com ele sobre isso CID. Aí ele me falou que tem esse entendimento sim. Mas que o pessoal questiona porque ele pode dar, pode fazer o que ele quiser. Mas tem que lançar na comissão, memória, entendeu?”, disse Câmara.

Na sequência, após relatar a restrição para venda do kit, Marcelo Câmara emenda, com uma referência à então primeira-dama Michelle Bolsonaro: “O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a DONA MICHELLE; então pra não ter problema”.

As mensagens revelam, segundo a PF, que apesar das restrições outros presentes recebidos por Bolsonaro “podem ter sido desviados e vendidos sem respeitar as restrições legais, ressaltando inclusive que ‘sumiu um que foi com a DONA MICHELLE’”.

Em resposta a Câmara, Mauro Cid afirmou: “Eu já mandei voltar o, eu já mandei voltar!”, referindo-se ao Kit Ouro Rose colocado à venda em leilão.

Cid ainda questionou Marcelo sobre a possibilidade de informar a “comissão memória” do governo e depois levar o kit novamente à venda. Câmara discorsou e respondeu: “Não vou informar nada. Eu prefiro não informar pra não gerar estresse entendeu? Já que não conseguiu vender, a gente guarda. E aí depois tenta vender em uma próxima oportunidade”.

Objetos de elevado valor, como aqueles que os assessores negociavam, devem ser obrigatoriamente entregues ao acervo da Presidência da República – ou seja, são bens do Estado, não pessoais.

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