Entrevistas

Indicação do vice de Ciro Gomes pode levar alguns meses, diz novo líder do PDT na Câmara

‘Temos muito tempo até julho’, afirmou André Figueiredo (PDT-CE), em entrevista a CartaCapital; partido deve compor com o PT no estado, mas ainda não há nome para governador

O deputado André Figueiredo, líder do PDT na Câmara. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A indicação ao posto de vice para a chapa de Ciro Gomes (PDT) pode levar alguns meses para ocorrer, segundo previsão do novo líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), que acaba de substituir Wolney Queiroz (PE) no cargo. Dias após o presidenciável dizer que Marina Silva (Rede) não foi sequer convidada para a chapa, Figueiredo reforçou a alegação e negou que tenham ocorrido diálogos nesse sentido.

A CartaCapital, o parlamentar contou que ainda há negociações em andamento com outra legendas, mas o que já está claro é que o perfil ideal é de um nome do Sul ou do Sudeste. O nome do apresentador José Luiz Datena, da Band, também já esteve entre os cogitados para ocupar a vice-candidatura do PDT. Em 2018, a aposta do pedetista foi a senadora Kátia Abreu, relevante figura do agronegócio e hoje no PP do Tocantins.

Figueiredo diz que não há preocupações em relação à performance de Ciro Gomes nas pesquisas – na mais recente delas, divulgada na quarta 16 pelo PoderData, o pedetista aparece com 4%. Figueiredo diz acreditar que Ciro supere os 12% a partir de abril, quando os partidos terão propagandas eleitorais na televisão e no rádio. “Não há motivo nenhum para ele perder fatia desse eleitorado que já votou nele”.

No palanque cearense, segue a perspectiva de compor uma chapa com o PT de Camilo Santana, governador que chegou ao segundo mandato e agora deve se lançar como senador. Quatro nomes do PDT estão sob avaliação para encabeçar a candidatura ao governo estadual: a atual vice-governadora Maria Izolda Cela, o deputado estadual Mauro Filho, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio e o economista Mauro Filho.

Figueiredo está atuando na costura dessas candidaturas e tem participado dos encontros regionais da sigla, retomados na última semana para debater a definição dos nomes.

Em relação às perspectivas para os trabalhos na Câmara, o novo líder do PDT diz que a bancada manterá unidade. No fim do ano passado, votos favoráveis à PEC dos Precatórios que vieram do próprio partido, inclusive de Figueiredo, motivaram uma reação crítica de Ciro Gomes e até a suspensão da pré-candidatura presidencial.

“Assunto superado”, garante o congressista.

Confira a seguir a entrevista.

CartaCapital: O governo diz crer que as privatizações da Eletrobras e dos Correios devem se concretizar neste ano. Qual é a perspectiva do senhor?

André Figueiredo: Em relação à Eletrobras, nós estamos tomando todas as medidas enquanto partidos de oposição unificados. É um assalto ao povo brasileiro. Nós temos uma diferença de mais de 60 bilhões de reais entre o preço que foi valorado pela comissão externa e o que foi ofertado pelo governo para a privatização. Isso sem considerar o valor dos reservatórios que já foram pagos pelo governo e podem incorrer em um novo custo para o povo brasileiro. Então, temos que brigar muito. Estamos otimistas de que conseguiremos segurar.

E os Correios, eu não sei se o Senado votará. Esperamos que o Senado segure até o próximo governo. E que o próximo governo, não sendo entreguista, reverta todo o tipo de dano dessas privatizações que estão acontecendo, inclusive de subsidiárias, o que visa desvalorizar a empresa-mãe.

CC: No ano passado, faltou unidade no PDT em relação à PEC dos Precatórios, o que gerou uma reação crítica de Ciro Gomes. Como está sua relação com ele? E como manter a unidade da bancada neste ano?

AF: Foi um assunto superado. A bancada votou de forma uníssona. A bancada do PDT votou majoritariamente favorável, inclusive porque nós tínhamos conversado com os sindicatos dos professores do Ceará, e eles estavam extremamente satisfeitos com a condicionante de votar um projeto de lei que eles demandavam, que garantia justamente a segurança jurídica da destinação de 60% dos precatórios do Fundef para os professores, e 40% para investimentos pelo poder público que eram sempre objetos de judicialização.

Então, a bancada de forma alguma votou desunida. E todo o episódio com o Ciro depois foi superado, até porque nós mostramos claramente que, no mérito, a matéria não era prejudicial para o brasileiro. Tanto que a gente viu que a própria bancada do PT no Senado votou favorável. Então, assunto encerrado.

E neste ano, nós vamos estar unidos enquanto bancada do PDT. É um ano importante, eleitoral, em que queremos apresentar um projeto para o Brasil. E, na medida do possível, estarmos unidos também com os demais partidos de oposição nessa resistência a todos esses projetos que esse atual desgoverno quer ver aprovados. Assim como foi na PEC 32, da reforma administrativa, é importante nós termos a mobilização de todo o segmento organizado.

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. Foto: Divulgação

CC: O PDT tem quatro possíveis candidatos ao governo do Ceará, o seu estado. Há perspectiva de quando o partido vai decidir quem vai disputar a eleição?

AF: Nós estamos realizando uma série de encontros regionais, como forma de consultar qual o governo que nós queremos ver implantado. Estamos levando os quatro pré-candidatos para que possam apresentar o seu pensamento para a população. São quatro pessoas extremamente preparadas e qualificadas para dar continuidade ao projeto exitoso iniciado com Cid Gomes e muito bem sequenciado por Camilo Santana.

Nós queremos, nos próximos anos, esse exemplo de gestão que virou o Ceará. A gestão fiscal é extremamente equilibrada, com capacidade de investimentos. Então, nós temos a responsabilidade de apresentar esse candidato em composição com o PT e com demais forças que hoje estão na base do governador Camilo. Isso deverá levar mais uns três a quatro meses para que nós possamos realmente decidir um nome.

O vice não está decidido. A única coisa certa é que o candidato a governo será do PDT e que o candidato a senador será o atual governador Camilo Santana. A questão do vice será discutida em momento oportuno.

CC: Ciro está com 4% das intenções de voto para presidente, segundo pesquisa mais recente do PoderData. Manter essa candidatura pode comprometer o financiamento das campanhas para o Legislativo?

AF: São financiamentos diferentes. Nós temos o valor que será destinado à candidatura majoritária presidencial, aos governadores e aos parlamentares, sempre deduzindo a cota feminina. Então, quanto a isso, não é problema, será decidido no momento adequado.

Existe uma convicção por parte da bancada, inclusive dos diretórios estaduais, de que o Ciro tem tudo para representar um caminho alternativo a essa polarização que pode ser muito prejudicial ao Brasil.

Mas, em termos de contradição por conta de financiamento eleitoral em relação à nossa candidatura a presidente, não existe de forma alguma uma inconformidade com isso.

CC: Como o senhor avalia a performance de Ciro nas pesquisas?

AF: Nós estamos vendo pesquisas que são díspares. Essa do PoderData, que na verdade é uma enquete feita por telefone, ela mostra o Ciro com 4%, enquanto outras já mostraram o Ciro com 7% e com 9%. Quem está nas ruas vê que a candidatura do Moro está derretendo, porque quanto mais se conhece o Moro, menos se quer votar nele. Diferentemente do Ciro: quanto mais se conhece, mais se quer votar nele.

O Ciro já teve 12%, quase 13% em 2018. Não há motivo nenhum para ele perder fatia desse eleitorado que já votou nele. Acreditamos que ele retome esses patamares entre abril e maio. Inclusive, em abril, vão voltar as inserções partidárias na televisão para fazer com que Ciro seja mais conhecido e leve a sua mensagem com mais eficiência.

CC: Esses números não têm preocupado o senhor?

AF: Não, de forma alguma.

CC: O que as pessoas estão conhecendo no Moro para que a candidatura derreta?

AF: Veem o Moro como ele realmente é. Às vezes as pessoas veem alguns candidatos em forma de super-heróis. Tinha até um boneco dele desse jeito. E ele é fraco. É uma pessoa sem nenhuma qualificação, sequer jurídica. Inclusive, transgrediu o direito.

Não estou aqui, de forma alguma, tomando a posição de advogado de defesa do ex-presidente Lula, mas está muito claro que Moro foi tendencioso para beneficiar o candidato Jair Bolsonaro e logo depois virar ministro dele. E outra coisa: é uma pessoa que não tem nenhuma empatia com o eleitorado.

O ex-juiz Sergio Moro. Foto: Mauro Pimentel/AFP

CC: É possível que o PDT não apoie o Lula no 2º turno contra Bolsonaro?

AF: A grande tranquilidade que nós temos é de que queremos derrotar o Bolsonaro. O ideal é derrotar o Bolsonaro ainda no 1º turno para que tenhamos um 2º turno entre Ciro e Lula. Seria, pelo menos, a certeza de que o Brasil, nos próximos quatro anos, vai ter um estadista à frente do nosso País e que defende a democracia.

Quaisquer previsões relacionadas ao 2º turno, a única coisa que podemos dizer é que o PDT, com certeza, quer derrotar Jair Bolsonaro já no 1º turno.

CC: Mas não é uma tarefa um pouco difícil, já que os eleitores do Ciro Gomes parecem ser do mesmo campo que o Lula?

AF: Não necessariamente. Existe hoje um eleitorado de centro que não quer nem o retorno do PT, nem a manutenção do Bolsonaro. São eleitores de centro, que podem muito bem migrar para uma via que seja verdadeiramente factível.

CC: Quando sairia a indicação a vice de Ciro? E qual o perfil ideal?

AF: Não teremos indicação em breve, até porque estamos discutindo com outros partidos. Temos muito tempo até julho. Evidentemente, pelo Ciro ser do Nordeste, o perfil ideal é que seja alguém do Sul ou Sudeste, e que pode ser uma mulher, ou não.

CC: E a possibilidade de Marina Silva sobre se tornar vice?

AF: O diálogo com a Rede sempre tem sido muito bom, e nós temos o maior respeito pela Marina. Achamos que ela é um grande quadro, que com certeza dignifica qualquer chapa. Mas não houve nenhum diálogo nesse sentido, até porque é muito cedo para isso.

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