Política

Homem morto por segurança de Tarcísio em Paraisópolis estava desarmado, dizem testemunhas a site

Conclusão consta em reportagem do Intercept, que tem como base o relato de quatro pessoas que contaram, separadamente e sem conflitos de versões, o que viram

O ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Foto: EBC Créditos: EBC
Apoie Siga-nos no

Os policiais à paisana que faziam a segurança de Tarcísio de Freitas (Republicanos) teriam matado o jovem Felipe da Silva Lima, de 28 anos, que estava desarmado, em Paraisópolis no último dia 17. Segundo o grupo Tortura Nunca Mais, há ‘fortes indícios’ de execução no caso. A informação sobre a autoria do crime foi revelada pelo site Intercept Brasil nesta quinta-feira 27 com base em relatos de quatro testemunhas que estavam no local.

Os relatos reforçam suspeitas de tentativa de obstrução de justiça por parte da campanha do ex-ministro Bolsonaro, que pediu para que as únicas imagens gravadas do tiroteio, captadas pelo cinegrafista Marcos Andrade, da Jovem Pan, fossem apagadas. Na quinta-feira, Andrade pediu demissão da emissora após contar que a assessoria do candidato também pediu seu desligamento da empresa.

O Intercept ouviu quatro pessoas que estavam no local e contaram, separadamente e sem conflitos de versões, o que viram naquele dia 17. Eles dizem que viram Felipe Silva de Lima e um outro homem, identificado como Rafael, que seria ligado ao tráfico local, dizer a um policial à paisana que não queria Tarcísio e sua equipe naquela região. Eles estavam de moto e desarmados.

Ao saírem de perto do policial, rajadas de tiros teriam sido ouvidas, segundo os relatos, distante da conversa e sem que nenhum tiro partisse em direção à equipe de segurança. Em seguida, Felipe e Rafael retornam e se tornam os alvos dos disparos dos policiais. Felipe foi atingido e Rafael correu. Mesmo após atingir o homem, os agentes seguiram atirando. Só então criminosos armados chegam na tentativa de resgatar o corpo do jovem. A versão contada, portanto, conflita com a tese de que ele teria sido morto após ter iniciado um confronto.

Outros pontos ainda reforçam a tese de que houve uma execução e não um confronto propriamente dito entre bandidos e policiais, como relata o boletim de ocorrência. O primeiro deles consta justamente no registro policial feito várias horas depois do ocorrido. Nele, os agentes informam que nenhuma arma foi recolhida com Felipe e duas armas que pertenciam aos policiais que estavam à paisana na segurança de Tarcísio foram apreendidas pela investigação. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o corpo de Felipe caído e sem nenhum armamento por perto. O boletim, porém, apesar de não relatar armas, diz que Felipe e Rafael teriam atirado nos seguranças.

Há ainda um segundo ponto que levanta suspeitas: passado o tiroteio, Felipe foi colocado em uma viatura para ser levado ao hospital, o veículo, porém, teria ficado, segundo a reportagem, parado por vários minutos em um posto de gasolina antes de direcionar o homem atingido por tiro no peito para atendimento. Ele já chegou morto no hospital.

O caso chegou a ser tratado por Tarcísio como um atentado. A tese de que ele era o alvo de bandidos, porém, foi desmentida naquele mesmo dia. Sobre os relatos que dizem que o segurança da campanha foi quem matou Felipe, a equipe de Tarcísio se negou a comentar o caso ao Intercept. Em nota, disse apenas que as informações devem ser apuradas pela reportagem com a polícia. Eles também não quiseram detalhar a não habitual presença de policiais na segurança do candidato. Fernando Haddad (PT) tem denunciado que não conta com o mesmo aparato ao seu lado e que isso nunca sequer foi oferecido a ele e sua equipe.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo