GSI foi observador de fim de festa e Gonçalves Dias deve ser exonerado, diz historiador sobre imagens do Planalto

Para o historiador Francisco Carlos Teixeira, que é especialista na questão militar e escreveu um livro sobre o 8 de Janeiro, as imagens das câmeras de segurança do Planalto, reveladas pela CNN Brasil nesta quarta-feira 19, mostram que o Gabinete de Segurança Institucional, sob o comando do general Gonçalves Dias, ‘errou muito’ diante dos golpistas e não conseguiu cumprir sua função naquele momento.

Ao ver as imagens, porém, ele faz um alerta: o vídeo foi editado pela emissora de uma forma que dá a entender que o ministro estava no local no momento exato da invasão, quando, na verdade, sua presença no Planalto ocorreu após a destruição. Teixeira já havia assinalado a presença de Gonçalves Dias no Palácio em seu livro “Como não fazer um golpe de Estado no Brasil: uma história interna do 8 de janeiro de 2023” (Edupe, 2023).

“A presença do Gonçalves Dias no Palácio do Planalto no final da invasão está assinalada no meu livro ‘Como não fazer um Golpe de Estado no Brasil’, no entanto, ele parecia desorientado, gritando: ‘não é culpa minha!’”, relata.

“Nesse clima, [o ministro] não deu ordem de prisão a nenhum dos invasores do Palácio, não acionou o coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, comandante da Guarda Presidencial, nem o general [Gustavo Henrique] Dutra, comandante Militar do Planalto. [Dias] Congelou, não conseguiu defender o Palácio, a República ou a Democracia”, comenta.

O historiador Francisco Carlos Teixeira
Foto: Divulgação

Apesar de avaliar que as imagens, da forma como foram divulgadas, apontam para uma participação maior de Gonçalves Dias do que a realmente aconteceu, Teixeira acredita que o militar deve ser retirado por Lula (PT) do cargo, uma vez que, sob seu comando, o GSI não cumpriu a sua função no dia 8 de Janeiro.

“Parece que a CNN editou o material para parecer que foi durante, quando foi, em realidade, depois da invasão. No entanto, todo GSI errou muito, pois não previu, o que é a função precípua do órgão, e não reprimiu, ficando como um observador do final da festa”, diz. “De qualquer forma, o general Gonçalves Dias deve ser exonerado, não tem competência para um cargo tão sensível”, avalia.

Ainda sobre a presença de Dias ter ocorrido após o ápice da tentativa de golpe, o historiador comenta que o fato ‘não anula’ a omissão de militares do Planalto naquele dia e que é preciso apurar e punir os agentes envolvidos.

“Nada disso [formato em que as imagens foram divulgadas] anula a paralisia e perplexidade do GSI, da Abin e do Batalhão da Guarda Presidencial, que nada fizeram para deter a invasão do Palácio do Planalto”, comenta.

“Como disse Lula na GloboNews, em 10 de janeiro, na entrevista à Natuza Nery: ‘abriram as portas do Palácio’. O Estado democrático deve ser expurgado dos fascistas, que ainda estão no Incra, na PF, na PRF e em vários órgãos públicos”.