Política

Governo Bolsonaro ignorou avisos de Abin e do GSI sobre colapso na pandemia

Relatórios da Abin e do GSI que ficaram sob sigilo alertavam sobre a alta dos casos da Covid-19

Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP
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Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)ndefendia o uso de medicamentos ineficientes e advogava contra as vacinas, seu manteve em sigilo mais de mil relatórios que projetavam o número de mortes em decorrência da Covid-19 no Brasil.

É o que mostram documentos obtidos pela Folha de S. Paulo produzidos pela Abin e pelo GSI, entre março de 2020 e julho de 2021.

Ainda que tivesse informações sobre as projeções da doença no País, indicam os dados, Bolsonaro decidiu ignorar de forma deliberada as recomendações do Ministério da Saúde, sobre uso de máscaras e distanciamento social. 

Os relatórios também desaconselhavam o uso da cloroquina e mencionavam a vacinação como uma forma efetiva de controlar a disseminação da doença, além de alertar sobre um possível colapso da rede de saúde e funerária do País. 

Os agentes da Abin e do GSI, ainda segundo a Folha, também reconheciam a falta de transparência do governo Bolsonaro na divulgação dos dados da pandemia, bem como a lentidão do Ministério da Saúde para definir estratégias de combate à doença.

A maioria dos documentos entregues ao Planalto projetava o cenário do espalhamento da Covid-19 para cerca de duas semanas seguintes. 

Os levantamentos feitos pela Abin se aproximaram dos dados efetivamente registrados pelos órgãos de Saúde, ainda que em alguns casos, a alta da pandemia superou as expectativas dos agentes de inteligência. 

Ao menos 18 relatórios citavam risco de “colapso” em diversas regiões do País. A partir de janeiro, os agentes de inteligência passaram a fazer relatórios sobre a falta de oxigênio no Amazonas, além do risco de a crise se repetir em outras regiões. Os avisos da inteligência foram ignorados pelo Planalto. 

Além disso, outros elencavam medidas que poderiam “reduzir o tempo para que a epidemia alcance o pico do número de casos de contágio”. 

Ao menos oito informes citavam estudos científicos que desaconselhavam o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. 

“Estudos recentes realizados em pacientes com Covid-19 que usaram esses medicamentos identificaram graves distúrbios do ritmo cardíaco, em alguns casos fatais, particularmente se utilizados em dosagens altas ou em associação com o antibiótico azitromicina”, afirma relatório de 23 de abril de 2020.

Ainda com diversas informações a seu dispor que afirmavam não haver remédio contra a doença, Bolsonaro usou o Laboratório do Exército para produção dos fármacos, que acabaram encalhados. 

Durante a pandemia, a Abin era comandada por Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL e o GSI era chefiado pelo general Augusto Heleno. Ambos aliados fiéis do ex-presidente. 

Os documentos mostram então, que apesar de ter consciência dos rumos da pandemia no Brasil, Bolsonaro decidiu, deliberadamente, contrariar todas as indicações e não adotar políticas que poderiam ter evitados mortes no País. Pelo contrário, incentivou aglomerações, desincentivou o distanciamento social e advogou contra as vacinas. 

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