Gleisi admite ‘reconhecer pontos bons’ da reforma trabalhista, mas diz que ‘essência foi ruim’

'O verbo não é importante, se é revogar, revisar, ajustar. O fato é que temos que consertar o que deu errado', disse a presidenta do PT

Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidenta do PT. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Apoie Siga-nos no

A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, sugeriu que um eventual novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode reconhecer “pontos bons” da reforma trabalhista” e defendeu “consertá-la”.

A declaração ocorreu em entrevista à CNN Brasil nesta quinta-feira 20.

“A reforma deu errado, não deu resultado, desculpe. Pode ser até que tenha alguns pontos que tenham sido bons, não estamos falando em não reconhecê-los, mas, na essência, ela foi ruim”, afirmou. “Ela retirou direitos, precarizou o trabalho, enfraqueceu a Justiça do Trabalho e os sindicatos e não gerou emprego.”

Segundo a presidenta do partido, “a proposta do PT é clara: a gente tem que fazer, sim, um conserto do que não deu certo“. Ela defendeu ainda a realização de uma conversa “com os trabalhadores, com o Estado e com os empresários” para “analisar o resultado” da reforma.

Entre os pontos que merecem “conserto”, Gleisi destacou:

  • “O trabalho intermitente”: “Qual é a modernização que tem o trabalho intermitente? Em que o trabalhador ganha por hora, em que ele não tem sequer adquirido o direito de ganhar um salário mínimo no mês, não tem outros direitos que o protejam dessas questões em relação a saúde e Previdência. Que vantagem, que modernização? Moderno para quem, é isso? Moderno é ganhar pouco, comer pouco, não ter direito?”, questionou.
  • O negociado sobre o legislado: “Qual é a força hoje que os trabalhadores têm para negociar os seus direitos, se os sindicatos estão enfraquecidos e as pessoas não estão organizadas? Você não pode colocar a espingarda no peito do passarinho e achar que isso é uma negociação. A gente tem que ter regras para isso, e os trabalhadores têm que ter condições para negociar.”
  • Os sindicatos: “O PT sempre foi contra o imposto sindical. Ele existiu, os sindicatos passaram a ter condições a partir disso. Bom, caiu isso. Como você tem condições de estruturar os sindicatos? Porque os patrões estão estruturados, se não em sindicatos, no Sistema S. Têm condições de fazer lobby, de articular, e têm dinheiro, têm mais poder. Então, nós temos que ter o mínimo de equilíbrio nessa relação.”

“O verbo não é importante, se é revogar, revisar, ajustar”, disse Gleisi, na entrevista. “O fato é que nós temos que consertar o que deu errado, e essa reforma trabalhista deu errado.”


A hipótese de revogação da reforma trabalhista aprovada em 2017 no Brasil foi levantada depois que Lula fez uma referência positiva à decisão do governo espanhol de substituir a reforma laboral de 2012 por outro conjunto de normas. Conforme mostrou CartaCapital, diferentes setores da Espanha afirmam que não houve revogação, mas “alterações mínimas”. O ex-presidente chegou a se reunir com autoridades espanholas para tratar do tema.

Para especialistas, a reforma trabalhista no Brasil aumentou o desemprego e contribuiu para a volta da fome. Segundo o IBGE, o Brasil tem atualmente cerca de 14,1 milhões de pessoas em busca de emprego; 7,3% a mais do que no mesmo período do ano passado. Já a taxa de trabalhadores sem carteira assinada chegou, neste ano, a 40,8% da população ocupada.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.