Justiça

Gilmar chamou Fux de ‘figura lamentável’ e criticou voto pró-Bolsonaro, diz jornal

Agora concentradas nos bastidores, desavenças já marcaram o plenário da Corte

Gilmar chamou Fux de ‘figura lamentável’ e criticou voto pró-Bolsonaro, diz jornal
Gilmar chamou Fux de ‘figura lamentável’ e criticou voto pró-Bolsonaro, diz jornal
Os ministros do STF Gilmar Mendes e Luiz Fux. Fotos: Victor Piemonte/STF e Sophia Santos/STF
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O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes chamou de “figura lamentável” o colega Luiz Fux em uma discussão na última quarta-feira 15, informou a coluna de Monica Bergamo no jornal Folha de S.Paulo nesta quinta 16.

A conversa ocorreu em uma das salas próximas ao plenário da Corte, segundo o veículo. A decisão de Fux de pedir vista no julgamento de um recurso do senador Sergio Moro (União-PR) em um caso de calúnia contra Gilmar motivou o diálogo.

“Vê se consegue fazer um tratamento de terapia para se livrar da Lava Jato“, provocou Gilmar, conforme o relato do jornal. Fux, então, teria dito que interrompeu a votação para estudar melhor o caso e afirmado que o colega fala mal dele em diversas ocasiões.

Em sua réplica, Gilmar teria declarado que critica Fux publicamente, por considerá-lo uma “figura lamentável”. Citou também o voto solitário do ministro no julgamento do núcleo crucial da trama golpista — um voto que, de acordo com o decano na conversa reservada, “não fazia o menor sentido”, por “condenar o mordomo”, em referência ao tenente-coronel Mauro Cid.

Luiz Fux, por fim, teria respondido que seu voto foi necessário diante do que considera um massacre contra os réus da tentativa de golpe.

Ringue ou plenário?

Ofensas públicas entre ministros rarearam nos últimos anos, mas já deixaram suas marcas no STF. Uma das mais emblemáticas ocorreu em 2018, quando Luís Roberto Barroso disse no plenário, durante uma sessão, que Gilmar era “uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia”. Pouco antes, Gilmar havia afirmado que o colega “deu uma de esperto” em um julgamento.

Em 2009, Gilmar, então presidente do Supremo, esteve em outro rumoroso bate-boca, protagonizado pelo então ministro Joaquim Barbosa. “Vossa excelência está na mídia destruindo a credibilidade da Justiça brasileira. Vossa excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso”, disparou Barbosa.

Três anos depois, em meio aos julgamentos do chamado “mensalão”, as brigas se tornaram mais frequentes. Em uma delas, Barbosa acusou Ricardo Lewandowski, revisor do processo, de deslealdade. Também se indispôs com colegas como Rosa Weber, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Marco Aurélio Mello.

Com a chegada de Jair Bolsonaro (PL) ao poder, as desavenças em frente às câmeras diminuíram, uma vez que toda a Corte passou a estar no alvo do ascendente movimento de extrema-direita no País. A pandemia da Covid-19 e as constantes ameaças do governo do ex-capitão serviram para reduzir — ou ao menos maquiar — as fissuras.

Difícil, mas não impossível

Ainda assim, há exemplos mais recentes de desentendimentos. 

Em setembro de 2023, Alexandre de Moraes e André Mendonça discutiram sobre os ataques golpistas de 8 de Janeiro. Na ocasião, a Corte julgava o primeiro réu por envolvimento na depredação das sedes dos Três Poderes.

Mendonça, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, lembrou sua atuação em datas como o 7 de Setembro. Na sequência, disse não entender “como o Palácio do Planalto foi invadido da forma como foi invadido”.

Moraes interrompeu o colega e ressaltou ter havido omissão da Polícia Militar do Distrito Federal no 8 de Janeiro.

“Eu também fui ministro da Justiça e sabemos, nós dois, que o ministro da Justiça não pode utilizar a Força Nacional se não houver autorização do governo do Distrito Federal, porque isso fere o princípio federativo”, prosseguiu.

Moraes também disse considerar “um absurdo” Mendonça “querer falar que a culpa do 8 de Janeiro é do ministro da Justiça”.

“Vossa excelência é que está dizendo isso. Eu queria, o Brasil quer ver esses vídeos do Ministério da Justiça”, respondeu Mendonça.

“É um absurdo, quando cinco comandantes [da PM] estão presos, quando o ex-ministro da Justiça [Anderson Torres] fugiu para os Estados Unidos, jogou o celular dele no lixo e foi preso. E, agora, vossa excelência vem, no plenário do STF, que foi destruído, dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó”, completou Moraes.

“Não coloque palavras na minha boca. Tenha dó vossa excelência”, devolveu Mendonça.

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