Justiça
Gilberto Kassab e seu histórico de imbróglios éticos e judiciais
Polícia Federal fez busca e apreensão em imóveis do futuro secretário de João Doria, acusado de receber 58 milhões de reais em propina


A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira 19 mandatos de busca e apreensão em imóveis do ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD). O irmão dele, Renato, e outras duas pessoas também são alvo da Polícia Federal. A medida foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, com o objetivo de reunir provas de crimes delatados pelo empresário Wesley Batista e Ricardo Saud, ex-executivo da J&S.
Na petição, a procuradora-geral Raquel Dodge afirmou que ambos afirmaram ter repassado 58 milhões de reais a Kassab em duas ocasiões. Segundo as delações, foram pagos 28 milhões de reais ao diretório Nacional do PSD, na época, presidido por Kassab.
Parte dos repasses ocorreram entre 2010 e 2016, período em que o político teria recebido 350 mil reais mensais, alcançando um total de 30 milhões de reais. O pagamento era feito para que Kassab usasse sua “influência em demanda futura de interesse do grupo”. Para viabilizar os repasses, os envolvidos firmaram contrato fictício de prestação de serviços que possuía relação comercial com a J&F, segundo a PGR.
O incidente desta quarta-feira pode se transformar em uma dor de cabeça para o governador eleito de São Paulo, João Doria. Kassab foi escolhido para ser o chefe da Casa Civil do governo do Estado a partir de primeiro de janeiro., exercendo o papel de articulador político do Palácio dos Bandeirantes com os deputados na Assembleia Legislativa.
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Histórico
O ministro e futuro secretário, no entanto, já possuía um histórico de envolvimento em escândalos que vão desde nepotismo, condenações por improbidade administrativa e aumento suspeito de patrimônio.
Em 1995, a Folha de S. Paulo noticiou que Kassab, então deputado pelo PL, colocou sua irmã como secretária do gabinete. Ele justificou, à época, que “ela trabalha comigo direitinho há oito anos”.
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Como secretário na gestão Celso Pitta, em 1998, ele foi condenado a 4 anos de prisão, em primeira instância, por uso de verba publicitária em propaganda eleitoral, mas disse que a responsabilidade era toda do prefeito. Acabou sendo absolvido nas instância superiores.
Em 2004, como vice de José Serra na Prefeitura, Kassab teve um salto de mais de 300% em seu patrimônio em um período de quatro anos (1994 a 1998), de acordo com a Folha. No período, ele foi deputado estadual e ocupou por um pouco mais de um ano a Secretaria de Planejamento de São Paulo na gestão Celso Pitta (1997-2000).
“Sou um empresário bem-sucedido. Foi tudo fruto do meu trabalho. Não fiz nada errado”, afirmou na ocasião.
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Em 2010, o TRE-SP havia aceitado denúncia do MP que acusou o então prefeito e ter recebidos doações ilegais da Associação Imobiliária Brasileira, construtoras e de um banco no ano de 2008 – cerca de 10 milhões de reais em doações irregulares. Três meses depois, o TRE-SP, derrubou a decisão e devolveu os direitos a Kassab.
A criação de seu partido, o PSD, em 2011, ocorreu sob fortes suspeitas de fraude na coleta de assinatura, inclusive com o uso da máquina da Prefeitura. Apesar dos indício, a Justiça na época autorizou a criação da sigla. A defesa do partido sempre negou qualquer tipo de fraude.
Kassab começou 2012, último ano de seu governo, com a maioria das suas principais promessas eleitorais em aberto. Não por acaso, nos últimos meses de sua gestão, pesquisa Ibope indicou que a rejeição do prefeito era de 42% entre os paulistanos.
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Mais recente
Em setembro deste ano, como ministro, virou réu devido a ação do Ministério Público de São Paulo que o acusa de ter recebido 21 milhões de reais em caixa dois durante a campanha para prefeito, em 2008. Como ele responde por improbidade administrativa, ministro ou secretário do governo paulista não terá foro privilegiado e o caso deve ir para a primeira instância do tribunal de Justiça.
Em resposta à operação deflagrada nesta quarta, a defesa do ministro informou, em nota, que Kassab “confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário”.
A nota ainda diz que ele “está sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários, ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público”.
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