Política
Gaeco realiza operação contra prefeito que casou com adolescente no Paraná
O grupo investiga possíveis crimes contra a administração pública e cumpre mandados de busca e apreensão
Uma operação do Ministério Público do Paraná com apoio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu mandados de busca e apreensão na Prefeitura e na Câmara de Vereadores de Araucária, na região Metropolitana de Curitiba, nesta quinta-feira 1º.
O prefeito da cidade, Hissam Hussein Dehaini, ganhou holofotes em abril após se casar com uma adolescente, um dia após a menor atingir 16 anos. Dias antes, Hissam nomeou a sogra para um cargo na secretaria municipal. O casamento, importante lembrar, pode ser anulado pelo Conselho Nacional de Justiça.
O grupo investiga possíveis crimes contra a administração pública. Apesar de não haver até o momento mais informações sobre os o inquérito que deu ensejo à operação, em abril, o MP do estado confirmou que apurava possível prática de nepotismo na Prefeitura da cidade, considerado ato de improbidade administrativa pela legislação federal. As promotorias que cuidam da área de Infância e Juventude e da Proteção ao Patrimônio Público também estão envolvidas na operação contra Hissam.
Em abril, existiam pelo menos outros seis parentes de Hissam nomeados na administração municipal, incluindo filhas e nora. Segundo o órgão, o procedimento desta quinta tramita em segredo de Justiça em “razão da natureza dos delitos investigados”.
Ao todo foram emitidos 10 mandados de busca e apreensão, tendo um deles como a Prefeitura de Araucária e endereços em Curitiba.
Em nota enviada ao site G1, a Prefeitura confirmou a operação no paço municipal e a inspeção de agentes no andar do governo e no jurídico. Nestes setores, nada foi apreendido ou copiado, segundo a administração.
A operação foi batizada de Scambio, um termo italiano que pode ser traduzido para ‘troca’ ou ‘escambo’ ou ‘negociação’.
Quem é Hissam Hussein Dehaini
Além do casamento com uma menor de idade e das suspeitas de nepotismo, o prefeito de Araucária tem uma longa ficha corrida. Entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, Hissam Hussein Dehaini foi investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico indiciado por envolvimento com tráfico de drogas, furto e desmanche de veículos, concussão, extorsão, corrupção ativa e passiva.
A suspeita era de que Hissam, apontado como empresário do ramo de hotéis e agência de carros, mantinha em uma das chácaras uma pista de pouso para helicópteros e um laboratório para o refinamento de cocaína.
Ele chegou a ser preso por 60 dias, em março de 2000, pela Polícia Federal, a pedido da CPI nacional. Sete meses depois, voltou a ser detido na fase paranaense da Comissão, denunciado por tráfico de drogas, proteção a traficantes e pagamentos a policiais. Permaneceu detido na Prisão Provisória do Ahú, em Curitiba, mas foi solto 104 dias depois, já em janeiro de 2001.
Sete anos depois, em outubro de 2007, o empresário voltou a ser preso no âmbito da Operação Metástase, acusado de participar de um esquema de fraude de licitações públicas no estado de Roraima. O indiciamento do inquérito, além da fraude de licitação, incluiu lavagem de dinheiro, descaminho, corrupção ativa, formação de quadrilha, sonegação fiscal, crime contra a ordem econômica e quebra de sigilo telefônico.
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