Política

Funeral ou campanha? Bolsonaro em Londres é alvo de críticas na imprensa internacional

Na esteira da potencial instrumentalização da viagem oficial, o que mais chamou a atenção da imprensa foi o discurso improvisado no domingo

Foto: Chip Somodevilla / POOL / AFP
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Chefes de Estado e de governo do mundo todo estavam na Abadia de Westminster na manhã desta segunda-feira 19 para o funeral da rainha Elizabeth II. Mas a presença de alguns líderes foi comentada e até mesmo contestada pela imprensa internacional. O presidente brasileiro faz parte desse grupo dos “convidados que incomodam”. Vários jornais comentam que Jair Bolsonaro, que improvisou um polêmico discurso logo após sua chegada a Londres, está aproveitando a viagem para fazer campanha eleitoral.

Cerca de duas mil pessoas, entre monarcas e líderes do mundo inteiro, foram convidadas para o funeral. Entre eles, o presidente americano, Joe Biden, o francês, Emmanuel Macron, representantes da realeza da Espanha, Suécia, Luxemburgo, Mônaco, além do imperador japonês Naruhito.

Porém, nessa lista alguns nomes são “menos frequentáveis que outros”, como escreveu o jornal francês La Croix. O diário explica que alguns líderes simplesmente não foram convidados à cerimônia, como o presidente russo Vladimir Putin ou representantes da Venezuela, da Síria e do Afeganistão.

“Mas ao estabelecer a lista final, as autoridades protocolares não puderem excluir todos dos perfis difíceis”, continua o diário, que dá como exemplos o presidente turco Recep Tayyip Erdogan ou o príncipe saudita Mohamed bin Salman, cujas visitas ao Reino Unido sempre suscitam críticas e protestos em razão da situação dos direitos humanos e da liberdade de imprensa em seus respectivos países.

Jair Bolsonaro também faz parte dos convidados “indesejáveis”, segundo vários jornais. La Croix ressalta que o líder brasileiro, “em dificuldade nas pesquisas de opinião contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, está “em plena campanha”. Em sua passagem por Londres, “o populista de direita acena para seu eleitorado mais conservador, saudoso da monarquia brasileira extinta no final do século 19”.

Campanha em “um momento de luto”

Na esteira da potencial instrumentalização da viagem oficial, o que mais chamou a atenção da imprensa foi o discurso improvisado de Bolsonaro no domingo. Após dizer que o objetivo principal da visita era demonstrar “um sinal de profundo respeito pela família da rainha e pelo povo do Reino Unido”, o líder brasileiro, “que parece prestes a perder as eleições presidenciais do próximo mês no Brasil – “mudou imediatamente de assunto e fez um discurso de campanha, apesar do momento de luto”, ressaltou o jornal britânico The Guardian.

Bolsonaro disse em seguida que a manifestação das pessoas reunidas diante da residência do embaixador brasileiro, Frederico Arruda, “representa o que realmente acontece no Brasil”, em um momento em que “temos que decidir o futuro da nossa nação”.

“Sabemos quem é (sic) do outro lado e o que eles querem implantar no nosso Brasil”, prosseguiu o presidente, para quem o Brasil “não quer discutir liberação de drogas, legalizar o aborto”, nem tampouco “aceita a ideologia de gênero”. “O nosso lema é Deus, pátria, família e liberdade. Esse é o sentimento da grande maioria do povo brasileiro”, disse na sacada, onde tremulava a bandeira brasileira, provocando gritos e aplausos dos presentes.

“Bolsonaro é acusado de transformar visita ao funeral da rainha em comício político”, resume o jornal britânico The Independent. “Os comentários politicamente carregados de Bolsonaro encantaram os apoiadores hardcore que vieram ouvi-lo no centro de Londres, mas provocaram raiva no Reino Unido e no Brasil”, avalia The Guardian.

The Independent também aponta que o líder brasileiro conheceu o novo monarca, o rei Charles III, durante uma viagem ao Japão em 2019. “Na época, Bolsonaro descreveu Charles, um ambientalista afiado, como ‘uma pessoa que, como o resto do mundo, está errada sobre a Amazônia’”, relembra o jornal.

Oposição pede que Bolsonaro seja punido pelo TSE

A Coligação Brasil da Esperança, formada pelos PT, PV, PCdob, PSOL, REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros, entrou no domingo com representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo que Jair Bolsonaro e sua campanha sejam impedidos de usar como propaganda eleitoral a viagem oficial.

Segundo Eugênio Aragão e Cristiano Zanin Martins, advogados da coligação, “desde sua chegada a Londres, percebe-se que Bolsonaro confunde as figuras de presidente da República com a de candidato à reeleição, sequestrando atos oficiais da República brasileira para fazer campanha eleitoral, o que é absolutamente irregular”. Para eles, “em pleno solo britânico, ele ofendeu o luto daquela nação para ficar discursando sobre suas pautas e bandeiras”, o que estaria sujeito a uma multa de R$ 25 mil, valor máximo previsto pela legislação eleitoral,

Ao ser questionado por jornalistas se a viagem poderia influenciar a campanha, Bolsonaro se irritou: “Acha que eu vim aqui fazer política?”, retrucou o candidato. “Não vou te responder! Tenha uma pergunta decente”, disse, antes de interromper a entrevista.

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