Política
Ex-deputado e irmão do prefeito de Maceió é processado por esquecer gaze em paciente
A vítima cobra 120 mil reais em indenização por danos morais, materiais e estéticos; uma audiência de conciliação deve acontecer no início de setembro


O médico e ex-deputado federal João Antônio Holanda Caldas é alvo de processo no Tribunal de Justiça de Alagoas por ter esquecido uma gaze no corpo de uma paciente após cirurgia para remoção de cisto no ovário.
Caldas é irmão do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). O material permaneceu dentro da mulher por cerca de sete anos e só foi retirado em abril.
O cirurgião Marcos Antônio Madeiro e o Hospital Veredas, instituição filantrópica onde o procedimento foi realizado, também são alvos da ação por danos morais, materiais e estéticos, apresentada à Corte alagoana em julho e obtida por CartaCapital.
Luana Samara, à época com 16 anos, passou por cirurgia após ter sido diagnosticada com um cisto no ovário. O procedimento foi realizado por Madeiro (cirurgião-geral) e Caldas, que era residente e atuava como 1º auxiliar. Um dia depois, a paciente relatou fortes dores no local e vômitos, mas a equipe médica atribuiu os sintomas aos efeitos da anestesia e assinou seu atestado de alta.
Cirurgia transcorreu sem intercorrências, indicam documentos assinados pela equipe responsável que foram anexados ao processo – Reprodução/TJ-AL
Outros sintomas foram aparecendo ao longo do tempo, como incômodo ao urinar e inchaço na barriga, e a presença da gaze só foi descoberta anos depois, quando Luana realizou exames ginecológicos. Laudos médicos anexados ao processo indicam que a demora em remover o item agravou o quadro de saúde da paciente.
Por isso, a vítima acionou a Corte e cobra 120 mil reais em indenização por danos morais, materiais e estéticos. No pedido, a defesa sustentou que os médicos foram negligentes e violaram o direito básico à saúde por não ter prestado socorro à paciente mesmo após os relatos de dores no local da cirurgia.
“Com a imperícia na prestação de serviços por todos os requeridos, a autora sofreu um grande abalo de ordem moral, atingindo-a em seu nome, sua honra, seu íntimo e causando-lhe enorme abalo psicológico e transtornos envolvendo sua saúde física, dores absurdas e risco de morte por infecção”, escreveram os advogados Gabriel Ribeiro, Lucas Ramalho e Marcus Dias.
No dia 17 de julho, a defesa do hospital Veredas solicitou ao TJ que o processo tramite em segredo de justiça, sob alegação de que o caso possui informações, dados e documentos e informações de acesso restrito. O documento, assinado pelo advogado Filipe Pedroza, cita trechos do Código de Ética Médica.
Uma audiência de conciliação deve acontecer no início de setembro para solucionar o impasse. O processo tramita sob a relatoria da juíza Maysa Cesário Bezerra, do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CJUS).
A reportagem não conseguiu contato com o médico para comentar o assunto, mas o espaço segue aberto. Por telefone, Madeiro disse não ter sido comunicado sobre o processo e afirmou lamentar que o assunto tenha sido repassado à imprensa para, segundo ele, “destruir reputações”. O hospital, por sua vez, não se manifestou.
Quem é o João Antônio Holanda Caldas?
O irmão do prefeito JHC disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo PROS da Bahia, onde atuou como médico, nas eleições de 2018. Obteve pouco mais de 20.900 mil votos e ficou como suplente, mas exerceu mandato-tampão na Casa de maio a setembro de 2020. De volta a Alagoas, concorreu novamente, dessa vez pelo PSB, sem sucesso.
No final do ano passado, João Antônio foi expulso da legenda presidida por Carlos Siqueira depois de ter sido acusado de agredir sua noiva, acusação que ele nega.
Seis meses depois do episódio, foi nomeado consultor na presidência da Caixa Econômica Federal por indicação do chefão da Câmara, Arthur Lira (PP).
O ex-deputado se filiou ao PL no início do ano de olho na disputa pela prefeitura de Marechal Deodoro, município distante 20 km da capital alagoana. A empreitada, contudo, foi barrada pela Justiça Eleitoral por inconsistências no processo de mudança de domicílio eleitoral.
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