Política

Ex-chefes da Fazenda e do Banco Central divulgam carta por economia verde

Nomes como FHC, Armínio Fraga, Rubens Ricupero e Pérsio Arida escrevem manifesto sobre riscos de se ignorar desenvolvimento sustentável

Paulo Guedes
Apoie Siga-nos no

O cenário de desenvolvimento econômico no pós-pandemia deve seguir parâmetros de baixo carbono, desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado e respeito à biodiversidade e aos povos indígenas. Ao menos é o que defendem ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central em uma carta-manifesto publicada nesta terça-feira 14.

A carta segue a toada de pressão política no governo do presidente Jair Bolsonaro em relação à preservação do meio ambiente, cenário representado também pela situação da Amazônia brasileira, que encara outro período recorde de desmatamento.

Os assinantes da carta argumentam que qualquer demora na definição de uma resposta verde pode implicar, no futuro, em perdas ainda maiores para a economia do que a que o coronavírus trouxe para o Brasil e o mundo. “Dependendo do cenário climático que iremos encontrar, os custos de descuidar de eventos climáticos com repercussões sistêmicas poderão ser bem maiores do que os da atual pandemia.”, diz o texto.

Assinam nomes como o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que também foi ministro da Fazenda como Arminio Fraga, Nelson Barbosa, Henrique Meirelles​, Joaquim Levy, Pedro Malan, Eduardo Guardia, Gustavo Krause, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello.

Os ex-presidentes do Banco Central signatários são Ilan Goldfajn, Persio Arida, Alexandre Tombini e Gustavo Loyola, além de Meirelles, que também ocupou o cargo.

Na proposta de baixo carbono sugerida pelos especialistas, há o apoio que investimentos públicos e privados apoiem “a transição da economia brasileira para um padrão de emissões líquidas de carbono zero, indispensável para estabilizar a temperatura média global”, o que contaria com uma eliminação gradual dos subsídios a combustíveis fósseis.

“A energia elétrica de origem eólica produzida no Nordeste, por exemplo, além de barata já equivale a quase 90% da energia consumida na região. Quase 20% da nossa produção de soja já é transformada em biodiesel, contribuindo para a prosperidade do produtor rural e redução das emissões de carbono. Há inúmeras outras oportunidades no setor de energia e em novos modelos de negócio de alto retorno e baixo impacto ambiental como os promovidos pela digitalização da economia.”, diz o texto.

Amazônia: desmatamento zero e respeito aos indígenas

O discurso dos ex-ministros e ex-presidentes do BC esbarra na falta de ações práticas do governo Bolsonaro e soma-se à pressão internacional em cima do assunto.

Investidores estrangeiros de fundos trilionários e CEO’s brasileiros se reuniram na semana passada com o vice-presidente Hamilton Mourão para acompanhar as políticas implementadas pelo general, que ficou na defensiva e defendeu a presença do Exército no bioma – mesmo com os resultados ainda questionáveis.

“O controle para o cumprimento das leis de proteção ambiental é uma maneira efetiva de mitigar emissões e evitar o mau uso do patrimônio público constituído pelas florestas em áreas da União, tanto as sem destinação específica, como as que formam Unidades de Conservação, assim como o desrespeito ao direito representado pelas Terras Indígenas estabelecidas por lei.”, escrevem.

O cenário, no entanto, é diferente do encontrado na prática. A resposta do governo frente às críticas tem adotado tom defensivo, como fez o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, ao dizer que o Brasil precisa de “ajuda e compreensão” das nações em relação ao desmonte ambiental observado desde 2019.

“Se há excesso e se há erros, corrigiremos. Não aceitaremos o desmatamento ilegal, a exploração ilegal de recursos. O Brasil é um país continental. A Amazônia é maior do que a Europa. É difícil vigiar tudo. O país ainda tem carências em educação, saneamento. Como é que nós conseguimos policiar todas as nossas fronteiras sem ajuda? Queremos ajuda e compreensão.”, disse Guedes em um encontro online promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Na segunda-feira, mais desconfianças de interferência política nos órgãos de monitoramento do desmatamento vieram à tona com a exoneração da coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.

Técnicos da pasta ainda relatam medo de que o órgão passe a ter uma estrutura “militarizada” e não mais pautada prioritariamente na ciência e no desenvolvimento de técnicas de processamento de dados dos satélites, dos quais os focos de queimada, o garimpo e o desmatamento não conseguem se esconder.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar