Política
Ex-aliado de Bolsonaro revela preço da eleição de Lira: R$ 10 milhões por deputado
Em entrevista ao The Intercept Brasil, Delegado Waldir (PSL-GO) contou detalhes de como funcionou o esquema na Câmara
O deputado federal delegado Waldir (PSL-GO) revelou neste fim de semana como funcionou e quanto custou o esquema de distribuição de emendas parlamentares para comprar votos para a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara. Na ocasião, Lira recebeu 302 votos. O mesmo esquema teria sido aplicado na aprovação da reforma da Previdência. As declarações foram dadas em entrevista ao site The Intercept Brasil.
Segundo o parlamentar, em toda votação importante no Congresso Lira negocia com o aval do governo de Jair Bolsonaro um valor a ser distribuído para cada parlamentar que apoiar a proposta. De acordo com Waldir, a negociação é feita diretamente com os líderes dos partidos, que recebem pelo menos o dobro dos demais deputados.
Questionado sobre quanto custou cada voto em Arthur Lira na eleição que o tornou presidente da Casa, Waldir respondeu que o apoiou rendeu pelo menos 10 milhões de reais em emendas para cada um dos deputados.
“10 milhões de reais [em emendas do orçamento secreto por deputado]. E na [reforma da] Previdência, 20 milhões de reais por parlamentar”, contou.
O parlamentar, no entanto, disse que nunca recebeu o dinheiro prometido por ter tido ‘um atrito’ com o Bolsonaro. Waldir é ex-líder do PSL e bolsonarista de primeira ordem, mas, em um áudio vazado, chamou o presidente de ‘vagabundo’ e ameaçou ‘implodir’ o ex-capitão. Desde então, perdeu a liderança do PSL e foi isolado informalmente da base bolsonarista, por quem alega estar sendo boicotado.
“Eu não recebi, eu e um grupo de deputados que foram dissidentes e permaneceram com o presidente Luciano Bivar. Alguns receberam, não foram todos. O governo me deve, porque fez um compromisso. E eu quero [receber], porque é dinheiro para meu estado”, destacou na entrevista. Segundo contou, ele teria ‘direito’ a 20 milhões por ser líder do PSL e ter votado em Lira, mas só teria recebido 450 mil até o momento como retaliação.
O esquema revelado pelo deputado tem sido chamado de ‘Bolsolão’, em que o orçamento deixou de ficar nas mãos dos ministérios e passou a ser distribuído por meio de emendas aos deputados em troca de apoio nas pautas do Congresso. A suspeita sobre a prática já existia, mas esta é a primeira vez que um deputado admite abertamente ter recebido emendas em troca do seu voto.
Até o momento, revelações dão conta de que só em 2021 o montante usado para garantir apoio ao governo na Câmara tenha sido de 18,5 bilhões de reais. O esquema também foi batizado de orçamento secreto, já que os nomes dos deputados que indicam a emenda são mantidos em sigilo pelo comando da Casa.
De acordo com Waldir, toda essa negociação é feita com a orientação do governo federal.
“Era direto com a Casa Civil. A Casa Civil fez o diálogo, antes o Onyx, depois o [general Luiz Eduardo] Ramos”, disse. “O governo federal traz demandas, não sei na pessoa de quem, da Casa Civil, sei lá eu. Chega no Lira, que é braço direito do governo hoje, que é quem manda no governo”, acrescentou em outro trecho.
Com o esquema, segundo contou, o presidente da Câmara passou a ‘mandar no governo’, já que tirou todo o dinheiro da mão dos ministérios, que possuem apenas o suficiente para manter a máquina pública rodando, mas sem novos investimentos.
“Ele é quem carrega o governo. Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira”, destacou o deputado.
“O governo, hoje, praticamente ficou com recurso só para máquina. Nenhum ministério tem dinheiro para nada. Investimento, zero. […] Não adianta chegar lá e pedir para o ministro tocar um projeto, não tem recurso. É zero”, complementou Waldir.
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