Política

‘Eu não faço parte de nenhuma ONG’, reforça Padre Júlio, na mira de CPI na Câmara de SP

O vereador Rubinho Nunes (União) conseguiu 24 assinaturas para instalar a CPI das ONGs – que, na prática, tem o sacerdote como seu principal alvo

Há mais de 35 anos, o padre Júlio Lancellotti dedica-se a apoiar os mais vulneráveis. Foto: Reprodução/TV Brasil.
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O vereador Rubinho Nunes (União) conseguiu apoio de 24 parlamentares da Câmara Municipal de São Paulo para instalar a CPI das ONGs, que mira instituições que prestam apoio humanitário a pessoas em situação de rua e a dependentes químicos da região da Cracolândia.

Na prática, contudo, um dos principais alvos da comissão é o Padre Júlio Lancellotti, da Paróquia São Miguel Arcanjo, que é uma liderança no trabalho de assistência às populações vulneráveis da região. Também entram na mira o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar), ligado à igreja católica; e o movimento Craco Resiste, movimento social que atua contra a violência policial na Cracolândia.

No requerimento apresentado em novembro do ano passado, o parlamentar suscitou dúvidas sobre a atuação das instituições, alegando que a atuação das ONGs não está isenta de fiscalização e que, em algumas situações, “pode haver preocupações éticas, como a exploração de dependentes químicos, a prática de métodos questionáveis de tratamento ou a promoção de interesses particulares em detrimento do indivíduo”.

Em conversa com a reportagem de CartaCapital, o padre Júlio Lancellotti reconheceu a legitimidade da Comissão enquanto instrumento de investigação do Poder Legislativo, mas reforçou não estar associado ao trabalho de nenhuma organização não governamental. O pároco chegou a atuar como conselheiro do Bompar, mas não atua na função há 15 anos.

“As CPIS são instrumentos legítimos do Poder Legislativo, que tem toda a autoridade e prerrogativa para implantá-las segundo o ritual de cada esfera do poder”, declarou. “Mas elas têm que ter um fim, um foco específico que, no caso, são as ONGS que prestam assistência à população da Cracolândia. Eu não faço parte de nenhuma ONG. Então quem tem que ser investigado é o poder público e as ONGs com as quais se estabelece convênios.”

“Não existe uma ONG Padre Júlio Lancellotti. A ação da qual eu participo da pastoral de rua é uma ação da Arquidiocese de São Paulo”, completou o pároco.

Para que a CPI das ONGs seja instalada são necessárias um total de 28 assinaturas e aprovação em plenário da Câmara, que retorna do recesso parlamentar em fevereiro.

Progressistas saem em defesa do Padre Júlio

Lideranças políticas criticaram o apoio da Câmara Municipal à instação da CPI e veem a citação a Padre Júlio como ‘perseguição política’. Foi o que registrou o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), em suas redes sociais.

É lamentável a postura da @camarasaopaulo  aprovar uma CPI que nitidamente é uma perseguição política ao @pejulio e aqueles que trabalham em prol da justiça e comprometidos com os empobrecidos de nossa sociedade”, escreveu.


É simplesmente um ABSURDO e OBCENO que a @CamaraSaoPaulo  (de vereadores) instale uma CPI para perseguir o Padre Júlio Lancelotti e demais organizações e figuras que, de maneira exemplar, doam seu tempo, sua força e sua vida para ALIMENTAR e ACOLHER irmãos e irmãs em situação de rua, esquecidos pelo poder público”, registrou a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

O deputado federal Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, destacou o episódio como uma página triste na história da Câmara Municipal de São Paulo.

Que página triste da história da Câmara Municipal de São Paulo: perseguir, com uma CPI, quem dedica sua vida a fazer o bem. Sorte tem a cidade de contar com a humanidade de Padre Júlio Lancellotti, que segue o exemplo de Cristo e se dedica tanto a acolher famílias que deveriam, por direito, ser amparadas pelo estado. E esses vereadores, o que fazem pelos mais pobres?”, questionou.

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