Política
‘Eu não faço parte de nenhuma ONG’, reforça Padre Júlio, na mira de CPI na Câmara de SP
O vereador Rubinho Nunes (União) conseguiu 24 assinaturas para instalar a CPI das ONGs – que, na prática, tem o sacerdote como seu principal alvo
O vereador Rubinho Nunes (União) conseguiu apoio de 24 parlamentares da Câmara Municipal de São Paulo para instalar a CPI das ONGs, que mira instituições que prestam apoio humanitário a pessoas em situação de rua e a dependentes químicos da região da Cracolândia.
Na prática, contudo, um dos principais alvos da comissão é o Padre Júlio Lancellotti, da Paróquia São Miguel Arcanjo, que é uma liderança no trabalho de assistência às populações vulneráveis da região. Também entram na mira o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar), ligado à igreja católica; e o movimento Craco Resiste, movimento social que atua contra a violência policial na Cracolândia.
No requerimento apresentado em novembro do ano passado, o parlamentar suscitou dúvidas sobre a atuação das instituições, alegando que a atuação das ONGs não está isenta de fiscalização e que, em algumas situações, “pode haver preocupações éticas, como a exploração de dependentes químicos, a prática de métodos questionáveis de tratamento ou a promoção de interesses particulares em detrimento do indivíduo”.
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Desde então, o caos na Cracolândia só cresce. Obviamente que tem muitas ONGs e falsos padres, como o padre Júlio Lancellotti, que ganham politicamente com tudo isso.
A CPI que estou instaurando na Câmara de SP vai esmiuçar… pic.twitter.com/Uqpj1qwdMz
— Rubinho Nunes (@RubinhoNunes) January 3, 2024
Em conversa com a reportagem de CartaCapital, o padre Júlio Lancellotti reconheceu a legitimidade da Comissão enquanto instrumento de investigação do Poder Legislativo, mas reforçou não estar associado ao trabalho de nenhuma organização não governamental. O pároco chegou a atuar como conselheiro do Bompar, mas não atua na função há 15 anos.
“As CPIS são instrumentos legítimos do Poder Legislativo, que tem toda a autoridade e prerrogativa para implantá-las segundo o ritual de cada esfera do poder”, declarou. “Mas elas têm que ter um fim, um foco específico que, no caso, são as ONGS que prestam assistência à população da Cracolândia. Eu não faço parte de nenhuma ONG. Então quem tem que ser investigado é o poder público e as ONGs com as quais se estabelece convênios.”
“Não existe uma ONG Padre Júlio Lancellotti. A ação da qual eu participo da pastoral de rua é uma ação da Arquidiocese de São Paulo”, completou o pároco.
Para que a CPI das ONGs seja instalada são necessárias um total de 28 assinaturas e aprovação em plenário da Câmara, que retorna do recesso parlamentar em fevereiro.
Progressistas saem em defesa do Padre Júlio
Lideranças políticas criticaram o apoio da Câmara Municipal à instação da CPI e veem a citação a Padre Júlio como ‘perseguição política’. Foi o que registrou o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), em suas redes sociais.
“É lamentável a postura da @camarasaopaulo aprovar uma CPI que nitidamente é uma perseguição política ao @pejulio e aqueles que trabalham em prol da justiça e comprometidos com os empobrecidos de nossa sociedade”, escreveu.
É lamentável a postura da @camarasaopaulo aprovar uma CPI que nitidamente é uma perseguição política ao @pejulio e aqueles que trabalham em prol da justiça e comprometidos com os empobrecidos de nossa sociedade.
O Padre Júlio é um irmão em Cristo, comprometido com o povo… pic.twitter.com/5DLvtsYvBo
— Pastor Henrique Vieira (@pastorhenriquev) January 3, 2024
“É simplesmente um ABSURDO e OBCENO que a @CamaraSaoPaulo (de vereadores) instale uma CPI para perseguir o Padre Júlio Lancelotti e demais organizações e figuras que, de maneira exemplar, doam seu tempo, sua força e sua vida para ALIMENTAR e ACOLHER irmãos e irmãs em situação de rua, esquecidos pelo poder público”, registrou a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).
É simplesmente um ABSURDO e OBCENO que a @CamaraSaoPaulo (de vereadores) instale uma CPI para perseguir o Padre Júlio Lancelotti e demais organizações e figuras que, de maneira exemplar, doam seu tempo, sua força e sua vida para ALIMENTAR e ACOLHER irmãos e irmãs em situação de… pic.twitter.com/lpuePw71uc
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) January 3, 2024
O deputado federal Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, destacou o episódio como uma página triste na história da Câmara Municipal de São Paulo.
“Que página triste da história da Câmara Municipal de São Paulo: perseguir, com uma CPI, quem dedica sua vida a fazer o bem. Sorte tem a cidade de contar com a humanidade de Padre Júlio Lancellotti, que segue o exemplo de Cristo e se dedica tanto a acolher famílias que deveriam, por direito, ser amparadas pelo estado. E esses vereadores, o que fazem pelos mais pobres?”, questionou.
Que página triste da história da Câmara Municipal de São Paulo: perseguir, com uma CPI, quem dedica sua vida a fazer o bem.
Sorte tem a cidade de contar com a humanidade de Padre Júlio Lancellotti, que segue o exemplo de Cristo e se dedica tanto a acolher famílias que deveriam,… pic.twitter.com/nGaWz7ZUac
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 3, 2024
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