Política

‘Está sendo gravada?’: a preocupação de ministros de Bolsonaro em reunião com trama golpista

O material é um dos elementos que basearam a operação da PF contra a conspiração por uma ruptura em 2022

Foto: Reprodução
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O vídeo de uma reunião comandada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 5 de julho de 2022 expõe a preocupação de alguns de seus ministros com a possibilidade de o encontro ser gravado.

O material é um dos elementos que basearam a operação da Polícia Federal sobre a articulação de um golpe de Estado em 2022. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, derrubou o sigilo da gravação nesta sexta-feira 9. Clique aqui para assistir à íntegra.

Segundo a PF, aquela reunião “nitidamente revela o arranjo de dinâmica golpista”.

“A reunião está sendo gravada? Está sendo gravada, presidente?”, perguntou o então ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, antes de se pronunciar sobre as urnas eletrônicas.

Então candidato a vice-presidente, o general Walter Braga Netto (PL) respondeu que não havia gravação de todo o encontro. Na sequência, Bolsonaro endossou a versão: “Não, eu mandei gravar a minha fala”.

“O TCU já soltou um relatório dizendo que as urnas são seguras. O relator foi o Bruno Dantas”, prosseguiu, então, Rosário.

Depois, Bolsonaro pediu que órgãos como a Polícia Federal e a CGU, além de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil, elaborassem uma nota a alegar que seria “impossível” garantir a lisura do processo eleitoral.

Tensão

Na reunião, o general Augusto Heleno, à época ministro do Gabinete de Segurança Institucional, afirmou que pretendia infiltrar integrantes da Agência Brasileira de Inteligência nas campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e de Lula (PT).

Em dado momento do encontro, Heleno foi interrompido por Bolsonaro, o que sinaliza a admissão de que não se tratava de algo legítimo.

“Dois pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer“, disse o então ministro. “O problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados…”

Bolsonaro, então, repreende Heleno: “General, eu peço que o senhor não fale, por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre esse assunto“.

Após o “alerta”, o ministro do GSI passa tratar de outro aspecto da articulação. Segundo ele, “não tem VAR nas eleições”.

“Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva”, prosseguiu.

“Isso aí tem que ficar bem claro, acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. Vai chegar um ponto em que não vamos poder mais falar, vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e determinadas pessoas, isso para mim é muito claro. Só isso.”

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