PolĂtica
Escolha de Derrite amplia tensão entre governo e Cùmara, mas esvazia pauta bolsonarista sobre facçÔes
Nomeação do aliado de TarcĂsio para relatar PL Antifacção provoca incĂŽmodo no Planalto, mas texto final evita classificar organizaçÔes criminosas como terroristas
A relação entre o governo Lula (PT) e o presidente da Cùmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltou a ficar estremecida após a escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do Projeto de Lei Antifacção, principal aposta do Planalto para reforçar o combate às organizaçÔes criminosas.
Derrite, secretĂĄrio licenciado de Segurança PĂșblica de SĂŁo Paulo e aliado do governador TarcĂsio de Freitas (Republicanos), foi indicado por Motta para conduzir a proposta, o que desagradou o governo. Apesar da tensĂŁo, o substitutivo apresentado por Derrite acabou esvaziando a principal bandeira da oposição bolsonarista â a de classificar as facçÔes criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, como organizaçÔes terroristas. O texto propĂ”e equiparar determinadas prĂĄticas dessas facçÔes aos efeitos do terrorismo, o que garante penas mais duras, mas sem enquadrĂĄ-las formalmente na Lei Antiterrorismo.
O Planalto, que havia manifestado preocupação com o risco de sançÔes internacionais e de brechas para intervençÔes estrangeiras, viu com alĂvio parcial a mudança. Mesmo assim, integrantes do governo consideram que o gesto de Motta fortaleceu adversĂĄrios e criou ruĂdo em um tema sensĂvel, que deve estar no centro da disputa presidencial de 2026.
Em meio Ă s crĂticas, Hugo Motta defendeu que a segurança pĂșblica Ă© uma âpauta suprapartidĂĄriaâ e que o texto relatado por Derrite âpreserva avanços do projeto do governo federal e endurece as penas contra o crimeâ. O presidente da CĂąmara tenta manter o discurso de equilĂbrio, mas a escolha reforçou a desconfiança do Planalto sobre suas reais intençÔes.
Em entrevista Ă GloboNews, nesta segunda-feira 10, o secretĂĄrio nacional de Segurança PĂșblica, MĂĄrio Sarrubbo, afirmou que o substitutivo âbanaliza o terrorismoâ e âpode desestabilizar todo o sistema penal e processual brasileiroâ. Segundo ele, o texto foi elaborado âĂ s pressasâ, ignora crimes como os golpes cibernĂ©ticos e de Pix e âolha apenas para o andar de baixoâ das facçÔes, sem atacar o comando financeiro das organizaçÔes criminosas. O secretĂĄrio pediu mais diĂĄlogo antes da votação e disse que a proposta âquebra a lĂłgica do sistema penal brasileiroâ.
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