Diversidade

Erica Malunguinho: ‘Se não houver radicalidade, não há transformação’

Em entrevista a CartaCapital, a deputada comenta a decisão de não concorrer a um novo cargo legislativo e aponta caminhos para uma nova composição do parlamento pós-eleições

Apoie Siga-nos no

“Me desorganizando, eu posso me organizar”. É com um trecho da canção ‘Da Lama ao Caos’ de Nação Zumbi que a deputada Erica Malunguinho (PSOL-SP) examina o saldo do final do seu mandato na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, a Alesp.

Após abrir caminhos na política, a primeira deputada trans do estado decidiu dar um passo em outra direção, abrindo mão de buscar uma cadeira no Congresso.

Para ela nesse momento, a prioridade é contribuir para que novas candidaturas negras, que representam o extremo oposto do bolsonarismo, cheguem ao poder.

“Se não radicalizarmos, nós não vamos ter espaço, ter a garantia de que no futuro forças conservadoras não possam voltar”, destaca.

Em entrevista à CartaCapital, Malunguinho defende a alternância nas cadeiras ocupadas pelo legislativo. “Há um vício de manutenção das cadeiras sem efetivamente haver a gestão disso, no sentido dessas cadeiras ocupadas de forma qualitativa”, explica. “Você vê que tem muita gente à toa.” 

Essa busca pela perpetuação do poder, avalia, provoca um esvaziamento da ação política. “Tem gente que não sabe sair da cadeira, que está tão lobotomizada por uma estética do poder que não consegue perceber que o seu papel ali não é necessário naquele momento”, dispara. 

Hoje na Câmara, segundo dados do TSE obtidos a partir do resultado das eleições de 2018, o a maioria dos 513 deputados federais eleitos são homens, brancos, com idade média de 49 anos, casados, com ensino superior e patrimônio milionário.

Malunguinho enfatiza a importância do que ela chama de “nova redemocratização”, onde mulheres, pessoas negras, LGBTs, indígenas assumem um lugar de decisão e desenham políticas públicas. “A cara do Brasil real precisa aparecer.” 

Na eleição deste ano, o TSE mostra um cenário com uma maioria de candidatos que se autodeclaram negros, cerca de 49,57%, contra 48,86% de candidatos brancos. Além disso, está em discussão no órgão um financiamento especial para candidaturas negras. 

Apesar da movimentação em busca de igualdade, por outro lado também crescem as formas de burlar e fraudar as políticas de ações afirmativas. Um levantamento feito pelo G1 mostrou que mais de 25 mil candidatos da eleição de 2016 que concorrem a reeleição  alteraram a raça declarada ao TSE, 40% deixaram de ser brancos e passaram a se considerar negros.

Sobre o assunto, Malunguinho destaca a necessidade da heteroidentificação — sistema anti-fraude racial, e uma mudança de postura com essas novas candidaturas. 

“Há um interesse muito grande em paternar esses grupos, mas não há um interesse de garantir a emancipação. No sentido que essas pessoas sejam sujeitas de suas próprias histórias”, afirma. “No sentido bem prático eu pergunto: até quando as pessoas que não andam de ônibus vão projetar os ônibus?”.

Assista à íntegra da entrevista:

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo