Justiça
Entidades ambientais acionam a Justiça para suspender licença para a Petrobras na Foz do Amazonas
A ação pede a anulação da licença e paralisação imediata de perfuração, alegando falhas técnicas, ausência de consulta a povos tradicionais e violação de compromissos climáticos


Uma coalizão de entidades ambientais, indígenas e quilombolas ingressou na Justiça Federal, em Belém (PA), para suspender a licença concedida pelo Ibama à Petrobras, que autoriza a perfuração de poços de petróleo no bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas. A Ação Civil Pública, protocolada na quarta-feira 22, pede liminarmente a paralisação imediata das atividades de perfuração e a anulação definitiva da licença.
A iniciativa ocorre dois dias após o início da operação de busca de petróleo na Margem Equatorial, e a apenas três semanas da COP30. São alvos da ação a União, o Ibama e a Petrobras.
O processo é movido por oito organizações:
- Observatório do Clima (OC);
- Greenpeace Brasil;
- WWF-Brasil;
- Instituto Internacional Arayara de Educação e Cultura (Arayara);
- Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem);
- Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab);
- Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Amapá (Conaq-AP);
- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
As entidades também pedem que o Ibama se abstenha de emitir novas licenças ambientais para empreendimentos petrolíferos na Margem Equatorial enquanto não houver uma avaliação completa da viabilidade ambiental e climática dessas operações.
As organizações pedem que o órgão e a União disponibilizem dados transparentes sobre as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de petróleo no País e que realizem consultas livres, prévias e informadas às populações indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais potencialmente afetadas.
O que diz a ação
Na petição, os autores afirmam que a licença emitida pelo Ibama apresenta “fragilidades técnicas e vícios insanáveis” no Estudo de Impacto Ambiental e no processo de licenciamento. Segundo o texto, o estudo seria insuficiente para prever e mitigar riscos ambientais, especialmente em caso de vazamento de óleo.
As entidades alegam ainda que o Ibama contrariou seus próprios pareceres técnicos, uma vez que o mesmo órgão havia indeferido licenças semelhantes em 2018 (para a empresa TotalEnergies) e em 2023 (para o mesmo bloco da Petrobras), citando incertezas e vulnerabilidade ambiental da região.
O que é o bloco FZA-M-59
Segundo a petição, o bloco está localizado a 161 quilômetros da costa de Oiapoque (AP), em área de 2.400 a 3.400 metros de profundidade, próxima a manguezais, restingas e ao Grande Sistema de Recifes da Amazônia, que se estende até a Guiana Francesa. Essa proximidade aumenta o risco de impactos irreversíveis em caso de vazamento de óleo.
O texto menciona ainda que a região é caracterizada por correntes marinhas imprevisíveis e pela presença de “vórtices internos” que poderiam dispersar manchas de óleo em direção aos ecossistemas costeiros.
Os autores sustentam que, além dos danos ambientais diretos, o projeto contraria a Política Nacional sobre Mudança do Clima e compromete os compromissos internacionais do Brasil de reduzir emissões.
Controvérsias
A autorização para perfuração foi concedida pelo Ibama na segunda-feira 20, após um processo de licenciamento iniciado há mais de uma década. A decisão foi celebrada pela Petrobras como “uma conquista da sociedade brasileira”, mas duramente criticada por ambientalistas e por integrantes da comunidade científica.
O tema ganhou ainda mais relevância porque o Brasil sediará a COP30 em novembro, em Belém. Para os autores da ação, permitir a exploração de petróleo na Foz do Amazonas contradiz o papel de liderança ambiental que o País pretende assumir diante da comunidade internacional.
Até o momento, o Ibama defende que a autorização foi concedida após um “rigoroso processo de licenciamento ambiental”, com mais de 65 reuniões técnicas em municípios do Pará e do Amapá, enquanto a Petrobras afirma que a operação seguirá “com segurança, responsabilidade e qualidade técnica”.
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