Política

Empresa de irmão de assessor de Tarcísio de Freitas utilizou policiais em segurança privada, diz jornal

Empresa de segurança privada CampSeg, ligada a Nelson e José Vicente Santini, atuou na região do porto de Santos, em ações marcadas por desvio de viaturas; proprietário diz que ações empresariais e políticas não são conflituosas

Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Apoie Siga-nos no

A empresa de segurança privada CampSeg, de propriedade de Nelson Santini, irmão do assessor especial do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), José Vicente Santini, está envolvida em um caso de apropriação privada da segurança pública. Segundo informação do jornal O Estado de S. Paulo, revelada nesta segunda-feira 10, a CampSeg utilizou agentes de segurança pública – policiais militares, agentes prisionais e guarda civis – para realizar a segurança patrimonial da ferrovia na região do porto de Santos (SP).

De acordo com a publicação, a empresa promoveu o desvio das viaturas dos agentes de segurança pública. Ao invés de serem utilizadas para dar conta das denúncias feitas por cidadãos através do número 190, as viaturas vinham sendo usadas para patrulhar a linha férrea em áreas rurais. Além disso, o helicóptero Águia, da Polícia Militar (PM) de São Paulo, estaria sendo utilizado por pessoas da CampSeg.

A CampSeg começou a atuar na Baixada Santista no dia 2 de janeiro – um dia após a posse de Tarcísio de Freitas como governador do estado -, tendo sido contratada pela Rumo Logística, concessionária da linha férrea. Na semana seguinte, o comando da PM de São Paulo mobilizou tropas especiais em uma operação contra roubo de cargas na ferrovia próxima ao porto de Santos, sob justificativa de aumento no número de casos. 

A ação conjunta entre a PM e os seguranças privados da CampSeg resultou na morte de Reginaldo dos Santos Conceição e de Wagner Moreira Coelho, sargento da reserva da PM e guarda civil, respectivamente, no dia 25 de janeiro. Ao serem confundidos com ladrões de um trem, eles foram atingidos por tiros de fuzil disparados por agentes do Comando de Operações Especiais (COE) da PM.

Fabiana Conceição, viúva de Reginaldo, ao tratar do caso, comentou: “Mudou de empresa [de segurança] e a CampSeg assumiu. O COE não tinha noção do que se passava, não foi informado que havia policiais militares prestando serviço à CampSeg”. Segundo o jornal, um policial penal foi baleado no pescoço ao lado da linha do trem por agentes da CampSeg, no dia 8 de março, em São Vicente.

De acordo com o jornal, os responsáveis pela contratação de policiais em Praia Grande, Cubatão e São Vicente, no litoral paulista, pagavam 28 reais pela hora de trabalho ou 336 reais por dia. O valor mensal era de 5 mil reais. Um dos administradores era Felipe Barboza, do 4oº Batalhão da Polícia Rodoviária.

Em mensagens trocadas por aplicativo, divulgadas pelo jornal, policiais da ativa fiscalizavam o atendimento de operadores do telefone 190. O helicóptero Águia da PM foi acionado por gerentes da empresa privada antes do 190 ser notificado.

Outro caso revela a ligação da empresa com as forças de segurança do estado desde o início do governo Tarcísio de Freitas. Segundo a publicação, documentos da PM indicam uma ordem de serviço da 3a Companhia do 39º Baralhão, direcionada para o Comando de Grupo de Patrulha 3, para deslocar, por 20 dias alternados – entre 24 de janeiro e 30 de março – viaturas para a Estada Paratinga, ao lado da ferrovia, em São Vicente. A questão, entretanto, é que o batalhão já conta com patrulha rural. 

A CampSeg 

Nelson e José Vicente Santini – entre os irmãos, José Vicente saiu da empresa em 2021 – são figuras ligadas ao bolsonarismo na região. O último, por exemplo, chegou a trabalhar na Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro (PL), mas foi afastado depois de usar indevidamente um avião da Força Aérea Brasileira para viajar à Índia. Ainda assim, foi transferido para o Ministério da Justiça, permanecendo na pasta até o fim da gestão. 

Nelson Santini, por sua vez, já trabalhou com Guilherme Derrite, atual secretário de Segurança Pública de São Paulo. Além da CampSeg, Nelson foi ligado à AutoDefesa Brasil, de Arnaldo Costa Vargas. 

A CampSeg foi a empresa responsável pela segurança na campanha de Tarcísio de Freitas ao governo do estado. A AutoDefesa Brasil, que pertence ao mesmo grupo, realizou, em 7 de outubro do ano passado, uma doação de 200 mil reais à campanha do então candidato.

De acordo com a publicação, as ações de cooptação de agentes de segurança pública para a realização de segurança privada começaram a ser desmanteladas depois que o jornal buscou a empresa e a Secretaria de Segurança Pública. 

Nelson Santini, proprietário da CampSeg, afirmou que não há conflito entre a atuação da empresa e suas atividades políticas. “Uma coisa é o trabalho político que faço até hoje, outra coisa é o CNPJ. Eu separo muito bem”, afirmou. A Secretaria de Segurança Pública de SP, por sua vez, informou que “qualquer denúncia de trabalho fora da instituição envolvendo policiais militares, salvo nas ocasiões em que estes estejam oficialmente licenciados e sem vencimentos, conforme determina a lei, será devidamente apurada”. 

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo