A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das mais ferrenhas defensoras do presidente Jair Bolsonaro, entrou em atividade intensa para tentar dar outros contornos à crise que abocanha o governo no momento.
Com suspeitas de pedido de propina de um secretário do Ministério da Saúde e de irregularidades nos contratos da vacina Covaxin, Zambelli foi às redes pedir por orações e deu entrevistas tentando diminuir o peso das denúncias comparando-as ao mensalão.
Na noite de terça-feira 29, logo após a publicação da reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre as supostas propinas, a parlamentar gravou um vídeo no qual pede por orações pelo governo e afirma que, se falasse tudo o que pensa, a Polícia Federal poderia bater em sua porta e prendê-la.
“A gente está um pouco cansado, não tem nada que a gente pode fazer. E além de tudo, não posso dizer que eu penso, porque temos 11 ministros do Supremo, ou vários ministros do Supremo, que se julgam acima do bem e do mal. Se eu dizer o que eu penso aqui, ao vivo, daqui algumas horas pode bater a Polícia Federal na minha porta e me prender”, afirmou a deputada.
“Eu peço oração. Porque quem sabe Deus possa nos ajudar. Quem sabe Deus possa indicar um caminho? Porque tem hora que é difícil. A gente olha e não enxerga um caminho”, lamenta. A parlamentar ainda afirmou que tenta fazer “a informação chegar a todos” e que não sabe se ela é uma “anormal” que não consegue fazer outras pessoas fora de uma “bolha” de apoio ao presidente compreendê-la.
Publicações feitas pela parlamentar já começam a delimitar qual será a estratégia do campo bolsonarista para lidar com a crise. Não há menção ao nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), envolvido no escândalo da Covaxin.
Também há descrença em relação a empresa intermediária apontada na reportagem da Folha, a Davati Medical Supply. Além disso, Ricardo Ferreira Dias, apontado como o pivô da negociação das propinas, foi identificado como um “indicado de Mandetta” e não associado ao presidente Bolsonaro.
Já em entrevista na manhã de quinta-feira 30 à Rádio Gaúcha, a parlamentar afirmou que a “proporção” da suposta corrupção no governo Bolsonaro é diferente da vista no passado e que o presidente não teria como saber dos esquemas sob suspeita no momento.
Depois, a deputada afirma que a situação do pagamento paralelo é de um “possível, talvez, quem sabe pedido de propina em que não houve pagamento” efetivo para diferenciar o caso do escândalo do mensalão.
“Na época do mensalão, centenas de deputados recebiam o mensalão, que eram distribuídos diretamente do primeiro escalão do governo para os deputados. Estou falando de centenas de pessoas envolvidas, milhões de reais envolvidos. A proporção é completamente diferente, estamos falando de uma pessoa de terceiro, quarto escalão, de uma pessoa pedindo propina sobre uma operação…”, afirma, antes de ser interrompida pela jornalista, que relembra que o valor do contrato era de 400 milhões de doses, com propina de 1 dólar por dose.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login